Andando pela rua, Ana Clara, uma criança de doze anos, mais baixa que a maioria das garotas de sua idade, viu algo brilhar na rua ladrilhada. Seus olhos, azuis como um céu sem nuvens, estreitou-se. Institivamente, a menina se abaixou e apanhou a elipse achatada que a convidava, reluzente. Ao tê-la nas mãos, Ana analisou-a. De ambos os lados. Era uma moeda nada comum...
Enquanto a observava, Clara sentiu algo insólito. A moeda, menor e mais iluminada que as convencionais, vibrou. Assustada, a pré-adolescente soltou-a e o objeto tinlintou em atrito com os paralelepípedos. "Ai!", pensou Ana ter ouvido o lamento assim que o barulho da queda cessou. Curvou-se novamente - tanto para voltar a pegar a moeda, quanto para ter certeza de que ouvira, de fato, a reclamação.
__Isso não foi muito delicado de sua parte, linda menina! - Disse a moeda, gemendo! Ana Clara esbugalhou o olhar, incrédula. __Não tenha medo! - continuou a peça de metal - Sou uma moeda mágica. E você teve a honra de encontrar-me. Não está feliz? - A menina, ainda em estado de choque, não sabia o que responder. Após algum tempo, justificou:
__Desculpe-me, dona Moeda. É que me assustei quando a senti tremer. Não era minha intenção machucá-la. - Apanhou-a outra vez, ao terminar a frase.
__Não tem problema, você é a terceira pessoa que me encontra em mais de 5 séculos e, embora em épocas muito diferentes, todos reagiram da mesma forma. - A moeda explicou, enquanto sorria. Depois, acrescentou: __Também não é nada comum encontrar um "pedaço de níquel" falante.
__É, não mesmo! Com a senhora veio parar aqui? Perguntou a jovem, após ter concordado com a estrutura em sua palma.
__É uma longa história. Prefiro falar de sua sorte... Sabia que, a partir de agora, tornou-se a moça mais sortuda de sua era? - Questionou o dinheiro que parecia não ter o menor valor.
__ Sorte? Como assim? - Retrucou Ana.
A moeda secular explicou:
__Eu sou atemporal, minha querida! Comigo, pode ter o que quiser. É claro que me refiro às coisas materiais... Não há nada que eu não possa conceder. E modéstia à parte, sou melhor que qualquer Gênio da Lâmpada. Eles limitam suas concessões a três. As minhas são incontáveis. E então, o que vai querer?
__Que surpreedente! - Vibrou Clarinha. Deixe ver... - continuou, levando sua mão direita sob o queixo, apoiando seu dedo indicador na têmpora. Ah, já sei! - ela gritou, animada. Quero um sorvete de chocolate!
Atônita, a moeda que estava na mão esquerda de Ana Clara perguntou:
__Acabo de dizer que pode ter tudo de melhor e mais extraordinário que quiser e você me pede um "sorvete de chocolate"?... - A estrtura metálica parecia zombar ao repetir as três últimas palavras.
__Sabe, dona Moeda, sou só uma menina. E amo a vida pacata que levo. Do que me adiantará ter tudo de mais magnífico do universo, se me faltarem as pequenas coisas? Eu acho que o mundo já tem gente poderosa demais... E pelo que vejo nas revistas, elas nem são tão felizes assim... Torram seus milhões em festas, mansões e carros, mas são incapazes de ajudar os moradores de rua. Não quero o poder para fazer parte deste grupo. Enquanto tem gente que procura nas cifras o caminho da felicidade, eu percebo que a felicidade é um caminho sem cifras.
A moeda pareceu ofuscar-se em meio àquilo tudo. Ana Clara, por fim, inquiriu:
__O que foi? Não está preparada para conceder o simples pedido de uma pirralha?
A Moeda Mágica arrematou, num sussuro:
__Não estava. Onde é que fica a sorveteria mais próxima?
NOTA: Imagem retirada do deviantart.com