Caso fosse possível listar, em um ano, a quantidade de denúncias que estamparam as primeiras páginas de jornais, capas de revistas e sites, um trabalho extenuante, e possivelmente jocoso, far-se-ia necessário. Todavia, não é topicalizar os escândalos dos setores públicos e/ou privados que, aqui, constituir-se-á em notícia.
É indubitável que, embora indignado, os brasileiros – ou a grande maioria dos mesmos – tenham adotado uma postura passiva, na qual a omissão quanto ao ato de indignar-se tornou-se fator preponderante. A sensação perceptível é a de que, embora insatisfeitos, os cidadãos prefiram a conformidade à justiça. A demagogia à explanação daquilo que é verídico. E tudo coaduna para a formação e propagação de uma realidade misteriosa; pautada no cinismo ultrajante, que faz dos cenários social, político e econômico do Brasil um picadeiro sob os holofotes da impunidade.
Ao cruzar os braços, a sociedade brasileira reafirma a vertente que insinua sua “memória curta”. Evidencia que, apesar de honesta, é capaz de conviver, em silêncio, com a corrupção, o que traduz a sensibilidade ao conformismo frente a situações e acontecimentos ilegais. Como se fizesse necessário uma bofetada – tão agressiva e dolorosa quanto a que envolve os paraísos fiscais e o nepotismo. Capaz de, magistralmente, tirar a população nacional de tal modo do lugar-comum a ponto de fazer coexistir e repercutir a essência do Brasil.
Faz-se válido salientar que, ao se sugerir a disseminação dos valores brasileiros, a idéia não é suscitar as paixões febris inerentes à nação – estas já são, de maneira incomensurável, difundidas através do carnaval, futebol e Cia Ltda. A proposta, portanto, pulula no campo da prudência conscientizadora, habilidosa para combater o banditismo estridente que grita, mas muitos preferem fingir não o ouvir.
Em suma, verifica-se a necessidade de se fazer valer os direitos legais dos indivíduos. Cabe a estes, então, arrancar a lona que cobre o circo – não de comédia, no entanto de horrores – armado em mentiras que podam o aproveitamento dos benefícios que lhes são peculiares. Exigir punição e justiça, em alto e bom tom, comprovará a disponibilidade de enfrentar o árduo e penoso caminho rumo a um espetáculo moderno, ético e, por fim, de bom gosto.
"A política é um grande circo no qual a platéia, o povo, é que faz marabalismo e anda na corda bamba."
(Marques Magno Salustiano)