terça-feira, novembro 02, 2010

Salve-me se puder

"Ou você faz por merecer, ou mereça, por aquilo que não faz.
                                                                                        (Fernando Lapolli)

Foi mais ou menos como estar à margem de um rio nervoso e largo. Suas águas, agitadas, lembram-me do dia em que o atravessei. Ele se mostrava simples e tranquilo. Pricipalmente porque onde me encontrava, tudo era meio sem graça. Era como se eu precisasse de uma dose aventura. E o outro lado, neste sentido, piscava, sedutor. Como um presente que se recebe, de modo que seu uso seja gradativo e constante. Um pé após outro, fiz a travessia lenta e sossegada. A caminhada era tão boa, que não me importara com o nível da água: primeiro nos artelhos; nos joelhos em seguida; depois na cintura, até que atingira meus ombros. Quando me dei conta, pisquei aturdido. Estava mais consciente da situação crítica que enfrentava, no entanto voltei a me concentrar no que vinha fazendo. Senti os pés deixarem de tocar o solo; percebi quando comecei a controlar a respiração para não me deixa afundar. Notara, de pronto, quando a profundidade era consideravelmente superior, porém me focava em sobreviver. Esta era meta (nada simples, cabe lembrar). Continuei me movendo, sem pressa ou desespero. Principalmente porque este me assolaria quando eu tocasse o lado oposto de onde eu saíra. Agora minha visão estava menos turva, mesmo com todo o excesso de água na cara, e eu podia ver que não fora uma boa ideia. Achava que estava “saindo do lugar comum”, confortável e seguro, para trilhar por um terreno amplo e verde – repleto de buracos e crateras sob a relva resplandecente e convidativa. A essa altura, conseguia concatenar. Assimilava com maior velocidade a gravidade dos fatos. Ainda assim, era melhor continuar o percurso. Esperaria que uma armadilha impiedosa me massacrasse antes. Falta de ar. Condensação. Todavia eu não parava. Devagarzinho, chegava mais perto. Só mais um pouquinho. Um espeço ínfimo, se comparado a todo o restante do trajeto. E, de repente, eu estava lá. Trôpego. Estirado no chão, procurando alimentar minhas ávidas narinas com seu alimento vital. Enchi o pulmão por diversas vezes, ainda de olhos fechados, e outra tantas o esvaziei. Abri os olhos. Pus-me de pé, com muito pesar. Olhei a minha volta. E não tive a menor dúvida: precisava voltar, e rápido, para o lugar do qual jamais deveria ter saído.

domingo, setembro 05, 2010

Sonhos de hoje: desilusões de amanhã

Eu me lembro de um tempo no qual minha refeição preferida eram os sonhos. Na verdade, até hoje, nada me sacia tanto. É quase um banquete, mas ele nunca é suficiente para matar minha fome.

Eu tenho medo. Muito medo. Do que eu era; de quem me tornei; do que virei a ser. É muita fantasia escondida em um espaço corporal relativamente pequeno. Um bando de partículas que formam um todo disforme. Muita informação, que não conclui conteúdo nenhum.

Finjo-me de forte, quando não passo de um frangote com medo das armadilhas que a vida é capaz de propor. Temendo cavar buracos nos quais, posteriormente, eu mesmo me enterrarei. Um conjunto de fossas fundas e sujas, com muitos lados, uma só entrada e nenhuma saída.

Preocupo-me com o amanhã; arrependo-me do ontem; e acabo não vivendo o agora. Tanta energia gasta em projetos mal estruturados... Há sempre um fio que sobra ou uma lâmpada que não acende. E se não há luz, fica realmente difícil enxergar um palmo que seja em frente aos olhos. Dupla esta que quer ver além das montanhas, mas é embaçada pela chuva quente de emoções que transborda e faz a visão, saudável, parecer um super poder.

Não sei mais o que fazer ou o quê esperar. Já estraguei tanta coisa; já desfiz tantas fantasias para criar mais um armário repleto de outras, que jamais deixarão de ser, apenas, desejos distantes; vontades nunca satisfeitas... As aulas de canto, teatro dança e piano que me tornariam um astro mundialmente famoso... Os vários diplomas, que me fariam um diplomata rico e respeitado... As viagens a todos os continentes do mundo, nos quais eu aperfeiçoaria meu domínio de vários idiomas... E eu continuo aqui. Um pouco mais alto; relativamente mais escuro; insignificantemente mais gordo. Sem entender direito o sentido da vida; sem conclui minha missão; mais maltrapilho que um tecido do século passado... Inacababo. Assim como prognostica ser o futuro.

Créditos: Imagem retirada do site www.deviantart.com

quinta-feira, julho 22, 2010

Ajuste o Passo

É dificil pensar no impensado. Prever o que será tendência num futuro não muito distante. Permanecer firme, ainda que os abalos sísmicos interiores façam cada centímetro corpóreo dançar, sem ritmo. Regido por uma melodia muda, oca e de péssimo gosto. Num figurino brega. É o mesmo que se sentir nu. Com "as vergonhas" à mostra para salientar todo o constrangimento.

Se fosse possível prever tudo quanto sucedera, jamais subiria no palco. Nunca ensaiaria uns passos. Tampouco convidaria outros para acompanhar-lhe. 

Rufam os tambores, com a mesma intesidade de balas disparadas, contra um alvo fácil. Vários calibres, atingindo-lhe em cheio e obrigando-lhe a sapatear, sobre um calçado sob uma placa de metal. Que forma o som estridente tocado pelo medo. De não se recordar da coreografia, lenta. Mórbida. Tosca. Desesperada.

Suor. Pudor. Rancor. Torpor. E tudo balança. E lançam-lhe uma lança. E você volta a arriscar alguns movimentos, vexaminosos. Vertiginosos. Lamuriosos. Tudo para tentar acertar, numa realidade que pisoteia o erro!

domingo, julho 18, 2010

É a Força que traz a Liberdade


É triste notar que as pessoas não se cansam de banalizar o amor. Em todas as esferas! Como feras, que só permanecem sossegadas até o momento de atacarem e ferirem a jugular de sua presa. Para muitos, esta é uma cadeia definitiva. Infinita. Pois, por mais que um dia seja possível esquecer o quanto doeu, a marca permanecerá ali, atormentadora.

Inconsequentes. Insapientes. Maldizentes. Tão mesquinhos! Tão sequinhos! Tão sugadores... De energias, desejos... Do próprio futuro. É roubo. Crime inafiançável... Afanar assim o tempo de outrem. Que acreditara. Gostara. Brigara. Para o ter do lado, como um cavalo na sela. E tudo o que conseguiu foi uma cela. Fria e suja. Triste e sombria. Nela há goteiras, rachaduras, muito concreto e aço. Para comprovar que é praticamente indestrutível e inesquecível todas as mágoas que desencadeou...

Talvez o erro tenha sido acreditar demais em quem nunca fora digno de crédito. Só tendo uma estaca fincada no peito para ter ceteza de que quem quer um mundo de sonhos constante, deve aceitar o fato de que terá de dormir para sempre! E, sinceramente, não se pode aproveitar a vida de "olhos fechados". Por entre os quais as lágrimas rolam, livres; completamente soltas... E se até elas tem "carta de alforria", não há motivos para que se permaneça encarcerado.

Para muitos, essa montanha de palavras não fará o menor sentido. Parecerá uma biblioteca, repleta de livros velhos e desgastados. Entretanto, por maior incoerência que haja; ainda que tudo pareça sentimentalismo barato, é possível crer, contra toda esta corrente pessimista, que nem tudo está perdido. Que as chaves para muitos cárceres fomos nós mesmos quem escondemos e a tarefa de reavê-las, portanto, é nossa! Procure. Lute. Liberte-se! Uma vez solto, é possível mostrar que a força é um atributo que foi desenvolvido. E, dotado dele, predador nenhum poderá voltar a atingi-lo...

sábado, julho 17, 2010

Quem Está no Centro, "Roda"


A frustração de boa parte do genêro humano reside no fato de o mesmo esperar muito do outro.

Gradativamente o homem se torna mais independente e, por conseguinte, individualista. O centro é si próprio. E, portanto, mesmo que conviva com outras pessoas, não existe a preocupação de demonstrar a importância das mesmas para o seu viver. E, de fato, para alguns o "próximo" não tem lá muita relevância mesmo. Mais valem os desejos, sonhos e projetos individuais.

Longe de ser um discussão científica e/ou intelectual. Isso aqui é só um desabafo. E é melhor que eu o faça agora, quando nada de muito grave aconteceu. Já passei por "maus bocados". Já tirei gente do poço que, ao sair, puxou-me para lá. Perdi a conta de quantas vezes já afastei as "pedras do caminho" para que meus "amigos" passassem e, ao fazê-lo, eles jogavam cascas de banana para que eu escorregasse. Eu me machuquei! Porém, sarou. Uma cicatriz aqui; uma outra manchinha ali, contudo tenho superado.

Meu erro, bem como o da maioria de minha espécie, é esperar que os "mais chegados" façam o que eu faria; ajam como eu agiria; doem-se como eu me doaria... E se dependesse da grande maioria, minha hemorragia  não passaria jamais. Arrisco a supor que alguns fariam questão de abrir um pouco mais a ferida...

A gente sara, todavia. Demora, entretanto acontece. Mesmo assim, não vou aprender! Continuarei crendo que, em meio a este rebanho faminto, haverá uns escassos personagens de bons coração. Que entendem que, para girar, o planeta precisa de vida. De boas vidas. Que confirmem que é a união e o coletivismo que fazem os ciclos valerem à pena.

quarta-feira, julho 14, 2010

D'esperto


Eu parei em frente ao espelho. Contemplei-me nos olhos; com determinação. Foi tão estranho! Enxerguei-me, em vez de apenas me ver. Surgira manchas que antes não existiam. Linhas de expressão inexpressivas. Embaixo dos olhos, bolsas acentuadas. Por quanto tempo eu viajara? Até onde fora? Para quê? Por quê? Por quem? Haveria retorno? Contorno? Fazia-se necessário me encontrar. E a estrada escura, perdida no ermo, tinha uma luz fraca. Melancólica e débil. Aqueles dois faróis estavam acesos, mas a bateria que os fazia luzir era fraca. Fachos oscilantes, porém consciensiosos eram somente o que vira. Vira. Ira. Fora. Ora. Por um período que jaz no pretérito. Imperfeito. Feito. Inacabado, contudo. Com tudo. Sonhos. Pães. Doces. Bolos. Bolôs. Pouco palatáveis, pelas agora abertas, "janelas da alma".

Estanque. Tanque. Guerra. Para quem cansou de errar. Para quem esta inapto a lutar. E teme o escuro...
Brilham, fracas chamas, como a brisa que passa sem destino. Por aquele que perdeu o tino. Porque esqueceu de separar momentos para observar(se). Contestar. Corrigir. Contrapor. Justapor. E justo agora, quando o azeite das lamaparinas secam, é que tudo fica claro. Em meio ao espaço cinza.

Sim! Eu me olhava. Com o semblante esperto, ainda que abatido. Por tanto ter apanhado numa luta muda. Com os olhos abertos, embora há muito fechados.

sábado, julho 10, 2010

PASSEIA-A


Comprida. Nem cem fitas métricas podem medi-la. Para atravessá-la, o ideal é ter tempo. Olhar para as duas partes. Tentar captar o mar de detalhes; de sons; de rostos e cheiros.

É predominantemente cinza, mas os passantes trazem cor. Diversão. Surpresa. Horror.

De baixo para cima. Em cima e embaixo. É tudo muito intenso. As retas. As curvas. Mais linhas. Azul. Amarela. Verde. Tudo muito veloz. Tudo parece sem voz. Passos apressados. Desconfiados. Curiosos... Tem o homem que dorme, sujo e despreocupado, no canto. Há o que se arrasta, como um cão, pelas pernas atrofiadas. Tudo muito comum. Há aquele que nem nota. Quantas notas movimenta. Quanto lucro por ele passa. Quanta gente que perde. Tantas outras acham. Feia. Bonita. Ícone. Sagaz. E ela não para. Para dentro. Para fora. Quem chega. Quem vai. Direita. Esquerda. Dois lados. Duas mãos. A que sobe. A que desce. A que entra. A que sai. Grotesco. Dantesco! Não faltam sugestões. Mas não importa o que digam. Tanto faz o que acham. Ela nunca para. Escura. Clara. À noite. De dia. Com chuva. Com sol... Com muita chuva. O burburinho. A fumaça. O aço. O asfalto. A torre, no alto. Nada a deixa dormir.

 Paraíso.

 Inferno.

 Liberdade. 

Confusão. 

Cada detalhe. Cada conversa. Desce. A pé. Consolação.

sexta-feira, julho 09, 2010

A Moeda Mágica



Andando pela rua, Ana Clara, uma criança de doze anos, mais baixa que a maioria das garotas de sua idade, viu algo brilhar na rua ladrilhada. Seus olhos, azuis como um céu sem nuvens, estreitou-se. Institivamente, a menina se abaixou e apanhou a elipse achatada que a convidava, reluzente. Ao tê-la nas mãos, Ana analisou-a. De ambos os lados. Era uma moeda nada comum...

Enquanto a observava, Clara sentiu algo insólito. A moeda, menor  e mais iluminada que as convencionais, vibrou. Assustada, a pré-adolescente soltou-a e o objeto tinlintou em atrito com os paralelepípedos. "Ai!", pensou Ana ter ouvido o lamento assim que o barulho da queda cessou. Curvou-se novamente - tanto para voltar a pegar a moeda, quanto para ter certeza de que ouvira, de fato, a reclamação.

__Isso não foi muito delicado de sua parte, linda menina! - Disse a moeda, gemendo! Ana Clara esbugalhou o olhar, incrédula. __Não tenha medo! - continuou a peça de metal - Sou uma moeda mágica. E você teve a honra de encontrar-me. Não está feliz? - A menina, ainda em estado de choque, não sabia o que responder. Após algum tempo, justificou:

__Desculpe-me, dona Moeda. É que me assustei quando a senti tremer. Não era minha intenção machucá-la. - Apanhou-a outra vez, ao terminar a frase.

__Não tem problema, você é a terceira pessoa que me encontra em mais de 5 séculos e, embora em épocas muito diferentes, todos reagiram da mesma forma. - A moeda explicou, enquanto sorria. Depois, acrescentou: __Também não é nada comum encontrar um "pedaço de níquel" falante.

__É, não mesmo! Com a senhora veio parar aqui? Perguntou a jovem, após ter concordado com a estrutura em sua palma.

__É uma longa história. Prefiro falar de sua sorte... Sabia que, a partir de agora, tornou-se a moça mais sortuda de sua era? - Questionou o dinheiro que parecia não ter o menor valor.

__ Sorte? Como assim? - Retrucou Ana.

A moeda secular explicou:

__Eu sou atemporal, minha querida! Comigo, pode ter o que quiser. É claro que me refiro às coisas materiais... Não há nada que eu não possa conceder. E modéstia à parte, sou melhor que qualquer Gênio da Lâmpada. Eles limitam suas concessões a três. As minhas são incontáveis. E então, o que vai querer?
__Que surpreedente! - Vibrou Clarinha. Deixe ver... - continuou, levando sua mão direita sob o queixo, apoiando seu dedo indicador na têmpora. Ah, já sei! - ela gritou, animada. Quero um sorvete de chocolate!

Atônita, a moeda que estava na mão esquerda de Ana Clara perguntou: 

__Acabo de dizer que pode ter tudo de melhor e mais extraordinário que quiser e você me pede um "sorvete de chocolate"?... - A estrtura metálica parecia zombar ao repetir as três últimas palavras.

__Sabe, dona Moeda, sou só uma menina. E amo a vida pacata que levo. Do que me adiantará ter tudo de mais magnífico do universo, se me faltarem as pequenas coisas? Eu acho que o mundo já tem gente poderosa demais... E pelo que vejo nas revistas, elas nem são tão felizes assim... Torram seus milhões em festas, mansões e carros, mas são incapazes de ajudar os moradores de rua. Não quero o poder para fazer parte deste grupo. Enquanto tem gente que procura nas cifras o caminho da felicidade, eu percebo que a felicidade é um caminho sem cifras. 


A moeda pareceu ofuscar-se em meio àquilo tudo. Ana Clara, por fim, inquiriu:

__O que foi? Não está preparada para conceder o simples pedido de uma pirralha?

A Moeda Mágica arrematou, num sussuro:

__Não estava. Onde é que fica a sorveteria mais próxima?


NOTA: Imagem retirada do deviantart.com

terça-feira, julho 06, 2010

O Mistério da Aurora (Parte III)


Lembro-me de ter sonhado... Fora um sonho lindo! Um garota, de cabelos pretos esvoaçantes e olhos cobreados, sorria para mim, enquanto me abraçava. Ela tinha um cheiro delicioso, algo que me fazia ter fome. Era tão bom! Só seu beijo não condizia com sua delicadeza e graciosidade. Era meio "melecado" demais. E seu hálito era quente como uma fornalha. Senti o estômago embrulhar, com vigor, e acordei, desorientado. Sentei-me em minha confortável cama - mais que o normal, vale lembrar. Olhei para baixo e Luque me olhava, com o rabo mais frenético que uma baqueta na mão de um habilidoso baterista. Tentei afastar o pensamento óbvio e foi como se meu cachorrinho branco com manchas pretas risse de mim - e para mim.

__Ah, não! Luque, por quê fez isso? Já cansei de lhe explicar que você não faz meu tipo! - Como se entendesse, ele deitou-se e escondeu a focinho entre as patas. Não pude conter uma risada. E suspirei! Quantos sonhos eu tivera... Deveria estar quase na hora banho e chegar atrasado ao trabalho era um luxo ao qual não poderia me dar.

Meu quarto estava escuro. Não deveriam ser mais de 5hs30 da manhã. Estiquei-me, relaxado. Como estava bom ali, sob os cobertores. Ops! Notei, de repente, algo incomum. Estava nu! Como era possível? Poderia jurar que dormira de cueca - box e branca. Pus-me de pé, rapidamente, e acendi a luz. Cocei a cabeça, aturdido... Meus little dogs também não tinham o costume de dormir comigo. "Meus" era demais! Porque Sol não estava ali.

__Luque, cadê sua irmanzinha? - Perguntei, desconfiado. Ele me conteplava com os olhos despreocupados, ainda com seu maxilar encostado no chão. Peguei meu hobby e o vesti com pressa. Sai do quarto. Minha mãe e meu irmão ainda dormiam. Fui à lavanderia. Vasculhei tudo. E nada! Sol sumira. Misteriosamente. Voltei ao meu quarto. Algo não estava certo...

Absorto em milhões de possibilidades, olhei para o lado e deparei-me com meu criado-mudo. O livro que pusera ali na noite passada fora substituído por um celular. Lembrava um iPhone, mas de alguma astro excêntrico de Hollywood. Era de um dourado ardente. Como se percebesse minha observação, o aparelho vibrou. Estranhei. Permaneci imóvel por alguns segundos e, em seguida, o peguei. Sua touch screen acusava a chegada de uma nova mensagem. Abri-a, cauteloso! O texto dizia: 

"Bom dia, meu caro Artur. Espero que tenha dormido como um anjo! Como disse ontem, sua vida agora será diferente. É bom que esteja preparado. Sua primeira missão é reencontrar o mendigo que viu no dia anterior. Adianto-lhe que não será tarefa fácil... Com ele estarão novas instruções a respeito de sua nova jornada. Lembre-se: 'nem tudo o que parece é'. Seja cauteloso e aja com prudência. Um abraço. Julius. P.S.: Não se preocupe com Sol! Ela gostou tanto de mim que tive de trazê-la comigo. Asseguro-lhe que ela nunca esteve tão bem..."

__Que bacana! - Eu disse depois de um tempo. - O cara, então, existe mesmo. E eu não sonhara coisíssima nenhuma... Ah, pai! Oque mais falta acontecer? - Questionei, olhando para o alto. Ainda segurava o celular e, por isso, analisei-o. Procurei pela logomarca da Apple, mas a única coisa que vi - e que lembrava o que procurava - era a mesma imagem em meu pulso esquerdo. "Maravilha!", conclui!

Joguei o aparelho sobre a cama e fui para o banheiro. Tomei um ligeiro banho e, mecanicamente, escolhi o que vestiria. Primeiro, claro, a cueca. Abri a gaveta em que as guardava e pimba! Ela reluziu... Minha primeira reação foi balançar a cabeça. Todas minhas estimadas cuequinhas tinham, agora, os elásticos em ouro. Seria impossível vestir aquilo. Incomodoria. Apertaria a cintura. Peguei uma aleatoriamente e, só para provar a mim mesmo que tinha razão, a vesti. Para minha surpresa, a parte dourada se modelava ao meu corpo. Andei. Abaixei. Pulei. Tudo para ter certeza de que não me machucaria e, de fato, isso aconteceu. Era como usar fraldas - desenhadas por estilistas renomados, mas, ainda assim, fraldas.

O resto foi tranquilo! Pus meu jeans surrado da Lee, um Converse branco e uma camiseta amarela; lisa. Peguei minha mochila Jansport da cor do tênis, a carteira e as chaves do carro. Comeria algo na rua.  Saindo do quarto, contudo, algo apitou estridente... Levei ambas as mãos aos ouvidos, para protegê-los. Era o "bendito" celular, berrando para não ficar sozinho. Encostei-me na cama e, com o ato, ele silenciou. Peguei-o e o enfiei no bolso. Sai do quarto, e tranquei a porta ao fazê-lo. Passsei apressado pelo corredor que dava à sala e saí pela área que me levava ao jardim, ao lado do qual ficava a garagem. Acionei o botão para desligar o alarme do carro, abri a porta e me sentei, jogando como de costume a mochila no banco de trás. Foi uma ação rápida, mas percebi que a bolsa não caiu. Virei o pescoço e... advinhem? O morador de rua do dia anterior segurava o eu acabara de jogar e me sorria, mostrando sua arcada incompleta!

CONTINUA...

segunda-feira, julho 05, 2010

O Garoto que Não Tinha Quem Amar


Pedro era um garotinho aquém de seu tempo. Antenado, gostava de saber das novidades tecnológicas e mundiais. Tudo o que era tendência o atraia. Cores, formas, psicodelia, artigos científicos, inovações... Ao longo de suas quase duas décadas de existência, havia se dedicado a muita coisa e, salvo raríssimas exceções (os dedos de uma de suas mãos seria suficiente para contá-las), tivera êxito em seus planos. Ele estava, nitidamente, fadado ao sucesso. "Futuro promissor o desse menino", era o que se ouvia com frequência. De amigos, familiares, professores e entusiastas. Não era necessário muito para perceber que, de algum modo, aquele era um rapaz diferente...

De um tempo pra cá, contudo, Pedro encontrava-se desconfortável. Algo o incomodava. Com afluência. Ele nunca se apaixonara. Seus sonhos e metas jamais permitiram a incursão de outra pessoa. E isso, agora, toranara-se um estorvo recorrente. Até suas habilidades foram comprometidas com o fato. O mais surpreendente era que, embora consigo mesmo - durante os momentos em que dialogava com o seu "eu" interior -, não aceitava a ocorrência. Para ele era menos penoso reprimir o embaraço. Sua vida era boa e tranquila. Consiguira, em pouco tempo, o que pessoas com o dobro de sua idade nunca conseguiriam. Não havia uma justificativa plausível para aquele vazio. Na verdade, "vazio" era uma palavra ridícula demais para seu curso cheio de conquistas e reconhecimentos. Ainda que não quisesse aceitar, todavia, sabia que algo lhe faltava... Um "detalhe" que faria toda a diferença, em sua vida nada convencional.

Aquilo era ridículo! Os artistas precisam de "musas inspiradoras"... Pedro não! Ele não cometeria o erro de se iludir. De tornar-se réu naquilo que os "piadistas" classificavam como "prisão". E se havia algo que ele apreciava em seu dias, isso se chamava "liberdade". O conflituoso, contudo, era que havia meses que não mais se sentia assim: livre. Sua sensação mais recorrente era a de estar sendo comprimido; num cubo que, gradativamente, fechava-se...

Pedro odiava admitir, porém estava descontente. Faltava-lhe algo importante, de que nunca sentira falta. Queria amar, entretanto não sabia quem, mesmo que não soubesse como. Nem por quê! No entanto sabia que era necessário... Não aguentava mais seus conflitos. Não queria mais conviver com toda aquela instabilidade. Sua rocha emocional, agora, era quase tão líquida como a água... E enrijecê-la novamente exigia um outro alguém.

Onde ela estaria? Com quem? Como seria? O que acharaia dele? Tantos passos a serem dados, entretanto não conseguia sair do lugar... Estudar grandes teóricos fazia-se tão menos complexo!

Seja lá como for, Pedro estava disposto a arriscar. Ainda não tinha uma figura específica, contudo encontraria, mais cedo ou mais tarde, quem amar e com ela aprenderia a fazê-lo.


Nota: A imagem foi retirada do site deviantart.com

sábado, julho 03, 2010

Você Pode Tudo (inclusive responder por suas ações)

NOTA: "O Mistério de Aurora" é ainda um trabalho em andamento. Em breve, mais uma parte da história.


Quebrar regras. Criar normas. Reinventar. Tudo para fugir da mesmice. Sair do lugar-comum. É bom contrariar. Por vezes, até necessário... Trata-se de uma maneira de "fugir" da rotina. 
Transviar. Sentir-se vivo. O que pode ou não é questão de ponto de vista. Na verdade, de escolha. Todos podem tudo! Desde que saibam que terão - e queiram - arcar com as consequências. Sequências. Eloquentes. Muito quentes. E independente da estação do ano ou do local no qual se esteja. Parece "filosofia barata", "mas o que tiver de ser, será". Por sua conta e risco. 

"A vida é curta!" Essa frase é mais clichê que esta última palavra. Ainda assim, um fato.  Portanto, dance! Como se a música tocada fosse a trilha de sua cômica vida. 

Coma! Como se fosse a última vez em que encherá a barriga...

Sorria! Pois dois passos adiante você poderá cair e ficar sem alguns de seus belos dentes...

Cante! Ainda que não saiba a letra e seja muito desafinado. Quem disse que você precisa ser um "American Idol"?

Beije! Na face, mão, pescoço e boca... Beije a si mesmo no espelho. Apaixone-se e demosntre amor. Por você. Pelos outros...

Estude! Seu futuro poderá depender desta ação. E não seja um CDF. A menos que você queira...

Torça! Pelo seu time favorito... E pouco importa se a "eliminação" chegar, tensa e zombeteira...

Sonhe! Dormindo, acordado; de pé ou sentado... Os sonhos costumam dar novo sentido aos dias.

Viva! Tudo o que puder. O máximo que conseguir. Com as mais belas e importantes pessoas que passarem por seu caminho. Afinal, você poderá não saber onde chegará, porém estará na estrada. E, certo ou errado , bem acompanhado.

segunda-feira, junho 28, 2010

O Mistério da Aurora (Parte II)

Por instinto, levei as duas mãos à face, em forma de "x", para me proteger. Os cães, contudo, passaram como balas pelos meus tímpanos. Gelei. E, num sobressalto, virei-me para ver e entender - ou pelo menos tentar - o que acontecia. Meus cães latiam, ferozes, para o espectro mais impressionante que já vira.  Tinha cerca de dois metros de altura.  Tudo isso para dar conta dos músculos incontáveis que pareciam ter sido feitos à mão (um físico que fazia Miro Moreira parecer o Pinóquio). Era como uma miragem. Não havia nexo acreditar que era real.

Seus cabelos eram como os de um ator mexicano. Minha memória me trouxe, de pronto, Carlos Daniel Bracho. "A Usurpadora" fez muito sucesso, sim. E que me atirem a primeira pedra quem nunca a assistiu. Mas do amor de Paulina ele só tinha as madeixas castanho-escuro. Ainda assim, num formato e corte muito superiores.  Suas  sobrancelhas eram másculas, mas não menos bonitas. Tinham pelos espessos, distribuídos de maneira equilibrada. Tudo para coroar seus olhos cor de mel. Misteriosos, alegres e brilhantes; muito brilhantes.  Mais abaixo, estava o nariz. (Seria o Doctor Rey o responsável por aquilo? Não! A estrutura era muito bela para ter sofrido interferência de um cirurgião.). Ele era afilado e perfeitamente arrebitado. Não chegava a ser feminino - até porque tinha o tamanho proporcional à face de homem -, mesmo assim era incrível. Seus lábios, naturalmente rosados, eram finos na parte superior, em contraposição à inferior que era mais grossa. Deveriam ter saído da mesma "fábrica" que fez os da Angelina Jolie. A diferença estava no caráter viril que eles denotavam. Por fim, o queixo. Era quadrado e imponente. Conferia ao seu rosto uma estrutura indiscutivelmente sintonizada. Em qualquer ângulo. Se eu tivesse metade de toda aquela beleza, mulher nenhuma me "daria um fora". Mas, enfim... O pescoço, musculoso como todo o resto, sustentava sua face de deidade. Parecia milimetricamente pensado para compor aquela "estátua viva". Seu peito e braços estavam nus. Suas calças eram pretas. Pareciam petróleo em estado sólido. E o cinto, com uma fivela com um design excepcional (lembrava um brasão), combinava com o dourado que vinha de seus pés. 

Meus fiéis escudeiros continuavam latindo. Rosnavam, impacientes, enquanto a criatura me contemplava com um leve ar de desdém. Ela flutuava e, à medida que a luz dourada que emanava de seu corpo se tornava mais fraca, o personagem colocava os pés, adornados por cuturnos dourados - do mais precioso quilate -  no chão. Pensei que, quando isso acontecesse, ouviria um agudo som de metal, mas, para minha surpresa (mais uma nesse dia esquisito), foi como se o chumbo encontrasse uma piscina de plumas dum nobre ganso. Engoli em seco.

__ Deveria ver seu rosto agora, paspalhão! - Disse aquele ser escultural. Fora a voz mais impressionante que já ouvira na vida. Fazia o Cid Moreira parecer o narrador do Pato Donald.

Tentei responder, mas minhas cordas vocais pareciam ter sumido. Abri a boca em "o", mas isso só deve ter deixado minha face ainda mais caricatural. O homenzarão, com cara de jovem, contudo, sorriu. E era, para mais um de meus espantos, como ouvir um violoncelo afinado.
__ Tenho muito o que dizer. A partir de hoje, sua vida nunca mais será a mesma. - Pronunciou. 

Enquanto falava, movia-se ao meu encontro. Luque e Sol, aqueles bananas, pareciam coelhos, de tão dóceis agora. Sabia que, um dia, me arrependeria por ter escolhido cockers em vez de pit bulls. Mas eles me pagariam, quando tudo aquilo tivesse acabado. Daria um banho bem frio e demorado em ambos.

Instintivamente, dei dois passos para trás. Encostei na máquina de lavar e lembrei que continuava de cueca branca, como costumava ficar sempre que ia dormir. A lavadora de roupas estava fria. Dei um leve salto e, dessa vez, o "sr. Todo Trabalhado no Luxo" gargalhou.

__ O que - que - que você quer? Baubuciei. E quis, no mesmo instante, não ter perguntado nada. Minha voz soou mais estridente que nunca. Fazia uma vuvuzela parecer instrumento de orquestra sinfônica. Suspirei - não sei se pelo constrangimento ou pelo medo que sentia.

__ Não precisa ter medo, Artur! - Ôpa! Eu não me apresentara... Como sabia meu nome? Aquilo já estava me deixando nervoso. Rá! E quando eu assim me encontro... Que diferença faz? Acho que, nestas circunstâncias, nem se eu ficasse verde e triplicasse de tamanho adiantaria. __ Você não me conhece, mas venho o observando desde que você era um bebezinho. - Continuou.

__ Como assim? Eu não sei quem é você. Na verdade, nunca nem imaginei ninguém assim. Em todos esses anos de historinhas, livros, filmes, novelas e otras cositas más. - Consegui, por fim, falar com certa fluência. Ao acabar, ele me contemplava, tranquilo e à vontade. Era como se fosse seu amigo, embora eu não soubesse disso. Nem meus amigos imaginários mais "bem elaborados" poderiam ser comparados àquilo. Ele pareceu ignorar parte do que eu dissera:

__ Bom, já que você não perguntou, me apresentarei. Sou Julius, muito prazer. - Enquanto sorria, simpático, ele estendeu a mão direita para me cumprimentar. Aquela composição cheia de grandes e alongados dedos estava coberta por uma luva do mesmo material das botas. Observava aquela porção do todo , atônito. Parecia brilhar hipnoticamente. Como se percebesse, Julius sorriu e, com um estalo ágil de dedos, a estrutura começou a se esfarelar. A cena me lembrou uma ampulheta. O estranho é que não havia pó caindo. A coisa sumiu e pude contemplar sua mão, aparentemente humana.  __ Não vai apertá-la? - Questionou-me, cerrando os olhos.

__An... É... Claro! - Concordei por fim. Fiz o que ele esperava e, graças a Deus, não era uma estátua fluorescente quando terminei de realizar o gesto. Enquanto largava sua mão, percebi que, em seu pulso, havia uma tatuagem. Não como essas que a gente vê no Miami Inc. Ela era dourada. Simples, mas bonita. Traços perfeitos. E era idêntica à que eu tinha em meu pulso esquerdo. (Tá, tudo bem! A minha não era bem uma tatuagem. Era uma cicatriz, que estava ali desde que me entendo por gente. Mas, ainda assim, era idêntica.).  __ Que bonita tatuagem - eu disse! Julius virou o pulso para si e concordou com um leve e  elegante balançar de cabeça.

__ A sua também - retrucou! E ao olhar para meu pulso outra vez, minha "cicatriz de infância" piscava. Senti-me tonto. E as úlltimas coisas das quais me lembro são de uma gargalhada divertida e de Luque lambendo, com aquela língua gigantesca e ensopada, minha boca.

CONTINUA...

sexta-feira, junho 25, 2010

O Mistério da Aurora

Eu estava exausto. O dia todo fora estranho. Acontecimentos e situações inusitadas. Bizarras em algumas circunstâncias, até - o morador de rua que me chamou pelo nome ao pedir uma esmola! Eu concluira, depois de tudo, que daria um tempo com livros e outras obras de ficção. Estava na hora de uma dose dupla de realidade... Esta seria a minha mais prudente escolha.

Cheguei em casa, exausto. Com espasmos pelo corpo, embora estivesse quente. Joguei a mochila na cama e, despindo-me às pressas, dirigi-me ao banheiro. Um bom e demorado banho me faria bem. Ajustei a chave da ducha para o modo "morno" e, lentamente, me lavei. Usei tudo o que tinha direito. De sabonete a sais de banho. Sentia-me, desconfortavelmente, sujo. E eu sabia que, para algumas impurezas, não há água ou espuma suficientes. Depois dos longos minutos ininterruptos, puxei minha macia toalha e me pus a secar. Meus músculos me irritavam. Eu me encontrava vermelho em determinadas regiões do corpo. Cogitei a possibilidade de as manchas serem resultado dos esfregões intermináveis. Depois de um longo suspiro, encaminhei-me de volta ao quarto. Ele tinha um cheiro que me fazia espirrar. Insistentemente. Fechei a persiana, após me certificar de ter fechado os vidros. Peguei minha cueca branca, para não perder o costume - algo que se tornara mania com o passar dos anos. Estava faminto, mas o que queria, mesmo, era dormir. Arrepiei-me! Um misto de prazer e medo. "Mas que droga de dia fora este?" (Pensei comigo mesmo). Separei meus cobertores. Estendi cada um de maneira metódica, e me aninhei embaixo deles, apagando o interruptor acima de minha cabeceira e acendendo, de pronto, o abajour no canto direito, sobre o criado mudo judiado pelo tempo. Nele estava o livro que relia, após anos: "Se Houver Amanhã", do aclamado (e brega) Sidney Sheldon. Ao abri-lo, lembrei-me da promessa de mais cedo: "leitura só depois de algum tempo". Seria importante para que eu conseguisse colocar as ideias em ordem. Fechei os olhos, crente que a inconsciência chegaria sem muitos esforços. Doce ilusão! Passara-se mais de 40 minutos e eu olhava, aturdido, o teto branco que ameaçava se lançar sobre mim. "Mais fantasias!", concluí. Levantei-me. Todos dormiam. Resolvi ir até à lavanderia, verificar se meus cachorros estavam bem. Aproveitaria a chance e contemplaria o céu, adornado por poucas estrelas e uma misteriosa lua minguante. Abri a porta de modo a não fazer barulho e pude ter certeza de que, nesse momento, algo veloz e quase imperceptível  paasou  por mim. Outro arrepio. Agora na região espinal. Não pude reprimir a risada. Luque e Sol dormiam, até meu terceiro passo. Foi aí que tudo aconteceu! Uma coruja piou (em plena cidade grande), e os dois inofensivos filhotes avançaram, mordazes, sobre mim!

CONTINUA...

segunda-feira, junho 21, 2010

Desde Quando


Não dá para saber... Desde sempre? Son(nh)o. E é durante a ação que o inconsciente vem à tona e nos toma. Inunda-nos! Como se uma comporta tivesse sido escancarada e a correnteza passasse a dezenas de quilômetros por hora... Carregando uma infinidade de detalhes e deixando, em contrapartida, grandes consequências.

Desde quando se sonha, é preciso ter em mente que se faz preciso estar acordado. Este é o acordo. Olhos abertos. Pés no chão... Mãos ao alto (por vezes). Porque se espera que assim chamemos a atenção de Deus. E Ele nos vê. Fato! Independentemente de como nos movimentamos. Pouco importa o fluxo de nossa urgência e necessidade. Desde quando sonhamos...

Com um amor impossível. Invisível como o ar. Como a água que não refresca. Mais distante que a intocável estrela. Perto e longe. Dentro e fora. Sonho. Desde quando?

Olhar distante. Que belo horizonte! Longe... Quase fictício. Tudo preso pelas janelas. Não da sala de sua casa, apenas. Mas da alma. Imaginativa. Enganadora. Infantil. Imprescindível.

Desde quando se está disposto a correr pelas ruas. Buscar seus ideais. Contar com a proteção divina. Encontrar soluções para os problemas que encobrem a aurora. 

Desde quando se quer ser atrevido o bastante para não deixar de sonhar. Com prudência. Apaixonado. Intenso.

Desde quando você se despe da coerência. Esquece de corrigir e corrigir(-se). Apenas sonha. Desde quando considera importante. Importa. Porta. Que se abre. Quando se sonha. Desde quando se sonha.

domingo, junho 13, 2010

Sem cortes, claquetes ou interrupções. Gravando!




Outra manhã cinzenta. Fria. E triste! Sem motivos aparentes. Sem revelações convincentes. Só marasmo. Nem uma única novidade. Como um filminho "água com açúcar". Um roteiro pobre, com atores anônimos. Sem ápice. Só começo e meio. Sem perspectiva de fim. Não há tempo para novas tomadas. As falas não podem ser repassadas e as emoções serão mostradas como forem expressas. Sem muita maquiagem. O figurino de péssimo gosto. Iluminação baixa. Enfim, um drama de quinta categoria, que nem os menos entendidos parariam para assistir. Cenas monótonas. Cores mortas. Trilha sonora inadequada. E o pior é que o diretor tem noção de todos esses deslizes. Mas ele nem se importa! Com o orçamento miserável ao seu dispor, foi o que deu para fazer! Esse fiasco, por pior que seja, vai ser produzido. Ainda que seja para servir de referência para aquilo que o universo cinematográfico não deverá fazer! Porque enquanto houver a ficção, a farsa e fantasia continuarão a existir... Com uma linguagem disfarçada que "coisifica" o homem e humaniza a coisa.

sábado, junho 12, 2010

Eu sou o Tarzan. Sai pra lá, macaca Chita!



Céu aberto. Perigo à vista! É isso mesmo. E às vezes tudo o que resta é você. Sem ninguém. Onde tudo o que tem é o nada. O ermo. Não confie. Não ame. Não sonhe. Não crie expectativas. Deixe de existir! Porque esta será a única maneira de cultivar essa floresta de negações.

Sua boa vontade é como sapato de cristal em pé de gata borralheira - e quero ver conseguir se locomover neste chão castigado pela seca. Sua dedicação e preocupação são como carne nobre lançada aos animais. Seu espírito altruísta e boa vontade não passam de elementos desencantados, que não fazem mais o menor efeito.

Portanto, seja você. Apenas. Envolva a si próprio em seus sonhos. Suas emoções em seus textos. Seus desejos em cada ação que realizar. Mas se importe menos. Há pessoas que não merecem tanta atenção assim. Procuram-no por iteresse. Porque é cômodo tê-lo como aliado. Para aconselhar quando estiverem prestes a enfiar o pé na jaca. Quando a prova for difícil demais para seu cérebro de minhoca. Ou quando a apresentação em grupo for constragedora para sua dicção defeituosa e voz de taquara rachada...

Por mim, os bichos ficariam restritos aos zoológicos, às savanas e às matas que lhes são peculiar. Trazê-los para a domesticação dá um trabalho da moléstia. E já há muito sofrimento em jogo...

Quer saber? De agora em diante, terão de caçar sozinhos! Aventurem-se na "selva de pedras". Usem as garras. Enganem outras presas, predadores insaciáveis. Eu já estou precavido. Já aprontei as armadilhas. Carreguei meu rifle. Então é bom manter uma distância considerável. Não tenho MAIS medo de suas peripécias e macaquices!

quinta-feira, junho 03, 2010

Imper(hiper)ativo



Em câmera lenta. É assim que a gente costuma se sentir depois de horas a fio trabalhando. Após ter dedicado tempo e energia excessivos num projeto. Ao término do intento, é como se a vida passasse a discorrer mais de - va - gar! Sem nenhuma pressa ou ansiedade. Porque o seu corpo e mente pedem descanso. Não só para que se consiga relaxar, mas para que seja possível refletir a respeito de tudo quanto foi feito... Detalhes. Caretas. Medos. Risos. Silêncio.

É um corre-corre daqui; uma agitação de acolá. Senta. Levanta. Dorme pouco. Fica acordado até tarde. Passos largos. Mãos furiosas. Assim fica melhor. Aquela cor é mais agradável. A ideia não atende às nossas necessidades. Néscios. Idades.

Faça. Venda. Divulgue. Supere-se. Mostre. Impacte. Inove. Mude. Cuide. Veja. Reveja. Ouse. Ore. Creia. Faça crer. Comova. Surpeenda (se)... E não dá para ficar parado. Há muitos detalhes com os quais se preocupar. Há muitas minúcias que merecem atenção. Os textos precisam ser revisados. Os conceitos, revistos.

O prazo está prestes a expirar. A gente nem lembra de inspirar. Esquece-se de respirar. E apenas faz - ou tenta fazer. Acontecer. Num meio onde pouco importa o quê ou como se pensa. Onde suas propostas geralmente são rejeitadas. Para maior sinceridade, elas nem são lidas. Mas, ainda assim, avaliadas.

E então, quando as coisas se acalmam; quando sobram alguns valiosos segundos, a gente pode refletir. Não como agente. Mas como seres humanos. Que se tornaram hiperativos por conta do selva de imperativos. Que nos cutucam. Nos pirraçam. Nos podam. Cortam-nos pela raiz. Tudo para que geremos não o nosso, mas o fruto que eles almejam. No período e da meneira que esperam.

E se pode perceber, por fim, que tudo o que não se pode fazer é ficar parado. Mas decidir como e por que quer se movimentar. Idependemente do que seja imposto. Sem que se importe com o ritmo.

sábado, maio 29, 2010

As semanas, os meses, os anos...



Final de semana. Após várias semanas... De preocupações e planejamentos. De projetos e pesquisas. De sonhos, bobagens e fantasias.

Pode ser que um dia cada gota de suor derramado valha à pena. Quem sabe as lágrimas sensibilizem o destino e eu, enfim, conquiste tudo aquilo com que sonho. Alcance o prédio alto, após escalar pesadamente... Vai depender do tempo. Do otimismo. De mim mesmo. Que não tenho mais certeza de ser benquista. Que desconheço as pessoas. Que fraquejo, mesmo querendo ser o mais imponente de todos.

Parcialmente compreendido. Totalmente confuso.

Querer. Saber. Fazer. Conseguir. São verbos muito mais complexos que suas próprias conjugações. Com apenas uma pessoa. EU. No presente; passado. Futuro! Que nunca chega. Que de longe se mostra. Que me aguça os sentidos. E me faz instável. Quando, na verdade, tudo o que procuro é segurança. Verdade. Certeza.

Não só um dia. Não só por um momento. Mas todos os dias da semana. Em todas as semanas do ano!

sábado, maio 08, 2010

O que a Faz Minha Mãe

Algumas mães são carinhosas e outras são repreensivas, mas isto é amor do mesmo modo, e a maioria das mães beija e repreende ao mesmo tempo. (Pearl S. Buck)


Eu não vou metaforizar sobre as flores. Nem mencionarei os corações. Nada de perfumes ou comparações com o mundo animal.

Ser mãe não é "padecer no paraíso", mas a prova de que este existe. Não de maneira perfeita, intacta, linda e imutável. Mas cheio de complicações. De altos e baixos. De diálogos imcompreendidos, que tornam o lugar muito aprazível em algo real, no qual se pode e se deve, de fato, acreditar.

Mainha tem um monte de defeitos. É tão nervosa que me faz ficar impaciente. Mas tão íntegra, a ponto de me deixar boquiaberto. Quando está insatisfeita, fala sem parar. Entretanto é atenciosa e preocupada. Não tem muitas ambições. Porém quer o sucesso absoluto de seus filhos. Fala alto, quando brava. Todavia acorda no meio da noite - mesmo nós não sendo mais crianças - para conferir se dormimos bem.

Não sei se ela é a melhor mãe do mundo. No entanto não tenho a menor dúvida de que seja uma das maiores (mesmo com sua baixa estatura). Sofre. Preocupa-se. Aconselha. Teme. Faz temer. Alguém que, mesmo longe de realizar seus mais modestos sonhos, não se cansa de alertar que, em breve, veremos grandes acontecimentos nos setores profissionais e pessoais de nossas vidas.

Francamente, não entendo como é que pode ser assim. Renunciar seus momentos e desejos em prol de outros. Que às vezes responde secamente. Fala de modo ríspido. Não auxilia nos afazeres.

Talvez seja este perfil pautado no incondicional que a enobreça. Que a enalteça. Que a faça mãe.

quinta-feira, maio 06, 2010

Curriculum Vitae

Eu sou quem grandes personalidades e instituições procuram. Tenho o perfil
de mercado e proatividade é o traço mais marcante de meu perfil. Não
bebo. Não fumo. Não uso drogas. Enfim, não vivo! Dedico-me a conseguir
um emprego que preste. Reste. Este?
Para
quem se interessa, de fato, segue o resumo de meus invejáveis diferenciais. Com toda a desenvoltura que me é peculiar, executo diversas ações, tais como:


Ler e escrever (fui alfabetizado desde muito cedo e tenho todos os dedos das mãos);

Capacidade de fazer cálculos e de resolver problemas
(LEI DE GAGA = (RAH)² (AH)³ + RO (MA) + RO (MA)² + (GA)² + OOH(LA)² = Want your Bad Romance).

Interpretar (fiz teatro na Academia Brasileira de Dramaturgia);

Cidadão (voto desde os 16 anos e já fui mesário duas vezes);

Marionete, não (já basta o coitado do Pinóquio -
Gepetto Maldoso);

Pesquisar e usar a informação adquirida (tem alguma dúvida? Jogue no Google para você ver!);

Saber planejar (desde de pequenininho que gosto de brincar de "Caça ao
Tesouro". Fazia planos tão completos, que nem eu conseguia encontrar o
"x" da questão);

Falar bem (afinal, no emprego não faltará quem falará mal);

Ter versatilidade (sou mais adaptável que um camaleão);

Falar melhor ainda ("MELHOR AINDA!");

Aprender sempre (até escovar cabelo eu sei);

Pensar acompanhado (pena que eu ainda esteja solteiro, ou melhor: disponível no mercado!);

Criatividade (é melhor aproveitarem, pois está quase acabando).


Duílio Castro
Graduando Desesperado em Comunicação Social

3255-2001

quinta-feira, abril 29, 2010

Em Cartaz

Talvez uma ultrapassada metáfora ainda chame a atenção de alguns leitores.


CENA I



Toca-se uma música triste e arrastada. No palco de madeira, surrado pelo tempo, ouvem-se os passos daquele que, apesar de ator principal, não comporta em si qualquer atrativo. Com pesar, ele se encaminha rumo ao facho de luz refletido pelo grande holofote no centro do tablado. A platéia encontra-se em silêncio; apreensiva; ansiosa. Mas não faz idéia do que esperar. Nem imagina o que virá a seguir. A melodia cessa. O personagem, que nem precisou de maquiagem para se caracterizar, para inexpressivo frente ao público, que espera, agora, impaciente. Um burburinho de insatisfação sufoca o ambiente. As cadeiras rangem mediante o desconforto dos expectadores. O jovem sem graça entreabre os lábios, entretanto não termina o movimento. A sensação perceptível fora a de que aquela figura nefasta esquecera o texto. Porém não havia nada a ser dito. Nenhuma palavra a ser pronunciada. Aquela imagem dramática, então, abaixa a cabeça de maneira lenta. As pessoas presentes se entreolham, confusas. O teatro volta a ficar taciturno. Nem a respiração se podia ouvir... Até que, de maneira cortante e aguda, uma espessa lágrima toca o chão.

FIM DO I ATO

segunda-feira, abril 26, 2010

Em Sentido Oposto

Cansei de procurar me entender. Ainda assim, arrisco-me com essa tarefa em se tratando dos outros. Estes que, se importam quando precisam. Que escutam quando convêm. Que abraçam quando querem ajuda.

Não, isto não é sentimentalismo barato ou melancolia aguda. É denúncia de injustiça, apenas. Falta de coerência. Com as ações e as palavras proferidas.

Não quero mais esconder-me no recôndito do meu quarto. Não pretendo manter o grito preso na garganta. Mesmo assim, entre sair e ficar, vou apenas deixar a porta aberta. Entre berrar e calar-me, dar-me-ei o direito de falar, apenas, um pouco mais alto.

Não para o mundo. Mas apara mim mesmo: agente em potencial e tranformador desta incomensurável "Caixa de Pandora". Que, em vez de respeitar o seu espaço, te sufoca. Que se acostumou a não mais lhe oferecer novas propostas. Que pouco se importa com que rumo sua vida tomará. Mesmo assim, neste mar de individualismo, agirei pensando em mim e naqueles que me cercam. Por mais cara que seja esta ação. Por mais dissabores que possa me oferecer. Vou andar na contramão. E seguirei de bicicleta, que é para ocupar menor espaço e poluir menos. Avançarei sem me esbarrar em ninguém. Sem "arranhar a lataria" dos outros. Minha proposta inclui o não-incômodo ou desconforto alheio.

Só quero ser feliz. E que, em meio a este universo governado pelo inverídico, minha sensação seja uma estranha e esquecida realidade.

terça-feira, abril 13, 2010

Em Meio ao Meio

Metade de mim quer acordar; a outra metade prefere ficar na cama. Ama.
Metade de mim ambiciona o frescor; a outra deseja o ardor. Dor.
Metade de mim anseia pelos raios intensos do sol; a outra metade pede para que o tempo se feche em chumbo e frio. Rio.
Metade de mim acha que deve avançar; a outra entende que o despenhadeiro esteja logo à frente. Rente. Ente.
Metade de mim almeja metaforizar sobre a vida e as situaçãoes que a mesma oferece; a outra metade acredita que tudo o que é pensado ou escrito a respeito é piegas e obsoleto (inclusive estas duas últimas palavras) - silêncio.
Metade de mim preferiria sorrir sempre; mas é a metade do choro que predomina. Mina.
Metade de mim opta por admitir que haverá um futuro promissor; a outra sabe que são só suposições. Posições.
Metade de mim requer o coloquialismo; a outra metade determina que eu seja formal. Forma. Mal.
Metade de mim é abstrata; a outra é concreta. Reta.
Metade é criativa, ousada e inovadora; a outra fede a mofo e abriga traças. Raças.
Metade de mim quer sempre uma das metades; a outra metade, também. Amém!

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Nada de Super Poderes


Eu não sei fazer quase nada, mas aventuro-me a aprender e apreender tudo. Desconheço como se executa a ação de voar, embora viva com a cabeça – e todo o resto do corpo – na lua. Nem imagino como se dá o “tele transporte”, porém já estive em lugares e situações inimagináveis. E enquanto muitos se satisfazem criando seres super poderosos, eu me realizo tentando, constante e gradativamente, ser alguém melhor. Afinal, o herói não passa de um personagem que os fracos inventaram para tornar suas existências menos dolorosas.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

AOS AMIGOS BAIANOS: Jai, Lio, Lio Gaga, Jó, Tico, Vitão, Pê, Fofo, Bitinha, Lelly, Liginha, Grazi, Dan...

Sei lá. Mas deu vontade de chorar. De gritar. De sumir. De fingir. Da realidade que, na maioria das vezes, parece mentira. Dura. Nua. Crua. Rua... Por onde transitam todos os meus amigos. Aqueles que me fazem enxergar como sou, apesar de me "pintarem" de uma outra maneira. Salto os ladrilhos. Subo nas calçadas. Tropeço. Peço... Para que, se não puderem andar, estejam sempre comigo. Seguindo rumo ao desconhecido. Explorando novos cenários. Escondendo segredos.
São tantos enredos! Incontáveis medos. Impenetráveis situações. Mas pensar que eles existem; que passam por momentos semelhantes é o mesmo que sentir quão bom é viver. Reviver. Rir. Ver.
Não! Definitivamente eu não seria o mesmo se eles não existissem. Se não fizessem de mim alguém supostamente "grande". Eu não teria gás para seguir em frente. Para mergulhar sempre mais fundo. Para ver os corais. Compor os corais. Enfrentar as corais. Pisar firme - ou mesmo nas cabeças das mesmas. Contra o chão. Este que me guia; que nos guia em direção aos declives. Por entre caminhos sinuosos. Pelas veredas inonstantes...
Meus amigos. "Meus caros amigos"! Como é boa esta sensação. De amar e ser amado. De chorar e ser consolado. De andar e saber que, no tempo certo, se chegará, portanto. Por tanto! Eu só agradeço. Amo. E me emociono, bobo. Desorientado. Mas sempre em movimento... Porque sei que há uma estrada para a partida, através da qual torna-se viável o retorno.



Eu tenho amigos que nem sabem que o são...

domingo, fevereiro 07, 2010

Faz-se Necessário um Pouco de Causticidade

"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós."
(Jean Paul-Sartre)

Hoje executarei dois atos dos quais não gosto muito. O primeiro é escrever em "primeira pessoa". O segundo é evidenciar meu menosprezo e repulsa pela opinião alheia. Principalmente quando a mesma parte de indivíduos maquiados. Que se escondem atrás de seus mundinhos de "faz-de-conta", embora eu saiba que, se um balde de água for jogado, toda a tinta escorrerá, mostrando a podridão que há por trás do disfarce. Tolos! Todos!
Lastimável pensar que dedicam parte significativa de suas insignificantes vidas a falar mal do próximo - e do distante também. Destinam suas horas num negócio que favorece o ÓDIO. Afetam o EGO. Comprometem o CIO. Não o meu, mas o de vocês, animais, que, com suas ignoradas ações, salientam sua irracionalidade. E quer saber? Por vezes é bom - bom não, misericordioso - dedicar um espaço a esses pobres coitados que desonhecem a efemeridade da vida; que, com suas próprias e inabilidosas mãos, deixam a existência escoar, líquida e fria, por entre seus dedos. Estes que apontam as falhas de outrem para omitir suas ações malsucedidas. Os sonhos NUNCA alcançados. Suas más resoluções internas que se traduzem na maneira como conduzem seu modo de viver; de ver; dever. Verde. Musgo. Gosmento e frio, assim como o são, em essência. Sem ciência. Ou consciência de quem são ou do que fazem.
No fim, então, presumo que pouco - ou NADA - importa o julgamento/conceito/preceito/preconceito dos outros. Os seres são demasiadamente contraditórios e, portanto, torna-se inviável satisfazer suas necessidades. A mim basta ter em mente, com força e vigor, as vertentes daquilo que é autêntico e veraz.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Ciclo Vicioso


Às vezes presumo que vagar seja o meu destino. Embora, ao chegar, eu não tenha lugar para o qual possa me dirigir. Ainda que, durante a locomoção, eu permaneça no mesmo local. Passam-se horas; dias; meses; muitos anos. E aprece que só o que mudou foram as rugas e as fases da vida a que todo o ser humano está fadado. Como se as conquistas e os sonhos se afastassem consideravelmente, cada vez que um novo passo é dado. Todavia, pior que andar é ficar parado.
Uma coisa é certa, portanto: este ano hei de descobrir uma maneira de me livrar dessa esteira em potencial que faz de mim um "ratinho de laboratório". Desses que ficam presos, esperando pela hora em que serão alvo de um experiência e, em seguida, descartados.
Encontrarei uma maneira de fugir dessa "rodinha" que me prende num ciclo vicioso. Na redoma que me limita, fazendo-me demarcado. Marcado. Arranjarei um modo a partir do qual pararei de andar em círculos. Quando descobrir, desbravarei tudo em linha reta. Meu rumo será o alto. O cume da mais bela montanha. O ápice das mais distantes aspirações. A essência incólume da ascensão.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Sobre Uma Obra-Prima



"A noite abre as flores em segredo e deixa que o dia receba os agradecimentos."
(Rabindranath Tagore)

Pequenina, reluzia como a lua em meio aos cabelos negros que lembravam o anoitecer, batizado pela mansa voz, similar ao brilho das estrelas... Deus metaforizara a noite ao criar a imagem de alguém que é de tamanho incomensurável.
Parecia uma cena ilusória. Dessas que apenas os autores mais letrados são capazes de traduzir; que somente os enamorados pela vida estão aptos a descrever.
O pequeno ser, ainda que em silêncio, arrancava suspiros por onde quer que passasse. Tinha o dom de fazer calar a mais interessante e calorosa conversa com sua presença de espírito; com seu risinho contido e timidez exacerbada. Linda! Como as musas inspiradoras dos mais competentes poetas. Da mesma maneira que uma inesquecível mulher faz com os pintores; compositores; roteiristas... Ela nascera e isso fazia a existência parecer mais relevante. Atribuía consistência à amizade. Deixava a paleta colorida. Os pincéis febris por movimento. As telas sedentas pelas mais intenas pinceladas. Ainda que o quadro fosse um cenário noturno. Espetacular, entretanto. Misterioso. Encantador... Encanta. Canta. Dor! Por não a ter descoberto mais cedo. Pelo desprazer de não estar ao seu lado em épocas passadas. Porque se perdeu a chance de viver insondáveis outros melhores momentos. Contemplá-la, todavia, tornava tal fato menos penoso. Trazia a estranha sensação de congelamento do tempo; de "viver feliz para sempre". Sim, afinal estar ao seu lado era o mesmo que não se importar com a opinião alheia. Era esquecer do quão torto e individualista se é. Era extinguir os pecados - por mais imperdoáveis que, um dia, foram.
Houvera entardecido. E a mudança de uma parte do dia à outra tornava sua beleza mais interessante. Destacava sua magia. Evidenciava sua nobreza. Exclusividade da noite. Onde tudo é silêncio e as pessoas dormem. E enquanto elas sonham com reinos encantados e contos de fadas, um jovem privilegiado retrata em forma de arte a imagem daquela que, por mais que pareça que não, é real.

Para Jaíce, com amor!

segunda-feira, janeiro 25, 2010

JUVENTUDE: a melhor marcha dessa moto veloz a que se chama de VIDA

Imagine o que acontece quando seis amigos inconseqüentes – dentre os quais cinco são mulheres – resolvem se aventurar, em motocicletas, rumo ao cerrado nordestino...

Sob um sol escaldante e serpenteando sobre duas rodas, eles se deslocam, nada uniformes, rumo a um ajuntamento de água que, pela escassez de chuva, a faz parada. Mas até que se chegue ao rio, eles sentem o vento na cara. Veem mosquitos vindo em direção aos capacetes. Perambulam, oscilantes, ora no asfalto, ora nas estradinhas disformes de areia. Estas, perspicazes, pregam peças em duas das aventureiras. A pilota bombeia e, num lapso de segundo, tem um espinho – relativamente grosso – cravado, com vigor, ao seu pescoço (sem se falar na poeira que subiu, nas pernas que se voltaram ao ar e nos arranhões incontáveis.) . Parece trágico, mas o sexteto fez graça do momento. Sorriu do intempérie que se apresentou como o ponto mais alto na teia de empecilhos que, antes de darem a partida, sobrepuseram-se aos seus caminhos. O desafio, uma vez lançado, deveria ser brilhantemente concluído (doesse em quem fora – mesmo que num deles próprios). E, insistentes, cada um destes inexperientes desbravadores definiram como meta seguir adiante – alguns nem tanto . Novamente puseram os motores para roncar, até que se refrescassem contra todo o ardor – tanto do sol escaldante quanto dos superficiais arranhões. ..

Ao chegar não permaneceram mais que vinte minutos. Todavia a sensação sobrepujante fora a de superação; satisfação; recompensa. Cada detalhe da façanha valera a pena. Restava-lhes, agora, somente voltar para casa, felizes e satisfeitos por esta situação que, definitivamente, os lembraram da doçura e intensidade que só pode ser explorada por aqueles que, de fato, são jovens.



"Se eu pudesse voltar à juventude, cometeria todos aqueles erros de novo. Só que mais cedo."

(Tallulah Bankhead)