quinta-feira, janeiro 28, 2010

Sobre Uma Obra-Prima



"A noite abre as flores em segredo e deixa que o dia receba os agradecimentos."
(Rabindranath Tagore)

Pequenina, reluzia como a lua em meio aos cabelos negros que lembravam o anoitecer, batizado pela mansa voz, similar ao brilho das estrelas... Deus metaforizara a noite ao criar a imagem de alguém que é de tamanho incomensurável.
Parecia uma cena ilusória. Dessas que apenas os autores mais letrados são capazes de traduzir; que somente os enamorados pela vida estão aptos a descrever.
O pequeno ser, ainda que em silêncio, arrancava suspiros por onde quer que passasse. Tinha o dom de fazer calar a mais interessante e calorosa conversa com sua presença de espírito; com seu risinho contido e timidez exacerbada. Linda! Como as musas inspiradoras dos mais competentes poetas. Da mesma maneira que uma inesquecível mulher faz com os pintores; compositores; roteiristas... Ela nascera e isso fazia a existência parecer mais relevante. Atribuía consistência à amizade. Deixava a paleta colorida. Os pincéis febris por movimento. As telas sedentas pelas mais intenas pinceladas. Ainda que o quadro fosse um cenário noturno. Espetacular, entretanto. Misterioso. Encantador... Encanta. Canta. Dor! Por não a ter descoberto mais cedo. Pelo desprazer de não estar ao seu lado em épocas passadas. Porque se perdeu a chance de viver insondáveis outros melhores momentos. Contemplá-la, todavia, tornava tal fato menos penoso. Trazia a estranha sensação de congelamento do tempo; de "viver feliz para sempre". Sim, afinal estar ao seu lado era o mesmo que não se importar com a opinião alheia. Era esquecer do quão torto e individualista se é. Era extinguir os pecados - por mais imperdoáveis que, um dia, foram.
Houvera entardecido. E a mudança de uma parte do dia à outra tornava sua beleza mais interessante. Destacava sua magia. Evidenciava sua nobreza. Exclusividade da noite. Onde tudo é silêncio e as pessoas dormem. E enquanto elas sonham com reinos encantados e contos de fadas, um jovem privilegiado retrata em forma de arte a imagem daquela que, por mais que pareça que não, é real.

Para Jaíce, com amor!

segunda-feira, janeiro 25, 2010

JUVENTUDE: a melhor marcha dessa moto veloz a que se chama de VIDA

Imagine o que acontece quando seis amigos inconseqüentes – dentre os quais cinco são mulheres – resolvem se aventurar, em motocicletas, rumo ao cerrado nordestino...

Sob um sol escaldante e serpenteando sobre duas rodas, eles se deslocam, nada uniformes, rumo a um ajuntamento de água que, pela escassez de chuva, a faz parada. Mas até que se chegue ao rio, eles sentem o vento na cara. Veem mosquitos vindo em direção aos capacetes. Perambulam, oscilantes, ora no asfalto, ora nas estradinhas disformes de areia. Estas, perspicazes, pregam peças em duas das aventureiras. A pilota bombeia e, num lapso de segundo, tem um espinho – relativamente grosso – cravado, com vigor, ao seu pescoço (sem se falar na poeira que subiu, nas pernas que se voltaram ao ar e nos arranhões incontáveis.) . Parece trágico, mas o sexteto fez graça do momento. Sorriu do intempérie que se apresentou como o ponto mais alto na teia de empecilhos que, antes de darem a partida, sobrepuseram-se aos seus caminhos. O desafio, uma vez lançado, deveria ser brilhantemente concluído (doesse em quem fora – mesmo que num deles próprios). E, insistentes, cada um destes inexperientes desbravadores definiram como meta seguir adiante – alguns nem tanto . Novamente puseram os motores para roncar, até que se refrescassem contra todo o ardor – tanto do sol escaldante quanto dos superficiais arranhões. ..

Ao chegar não permaneceram mais que vinte minutos. Todavia a sensação sobrepujante fora a de superação; satisfação; recompensa. Cada detalhe da façanha valera a pena. Restava-lhes, agora, somente voltar para casa, felizes e satisfeitos por esta situação que, definitivamente, os lembraram da doçura e intensidade que só pode ser explorada por aqueles que, de fato, são jovens.



"Se eu pudesse voltar à juventude, cometeria todos aqueles erros de novo. Só que mais cedo."

(Tallulah Bankhead)

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Minha Teoria; Meus Cálculos

Eu não sei aonde a estrada me levará. Nem imagino quantos passos serei obrigado a percorrer. Minha intenção não é mensurar o quanto, por livre e espontânea vontade, andei .
Mas há algo que é certo: parado não hei de ficar . Meu destino é o movimento . Não o uniforme. Muito menos o retrógrado. Nasci para me mover de maneira variada, embora o percurso seja um só: o vertical ! Que ascende e me acende. Leva-me às alturas... E, de lá, devaneio.
É uma viagem agradável, pois me eleva a outros planos . E, então, executo meus planos. Confabulo baixinho , em meio a minha sandice mentalmente escrita . Com palavras que só eu vejo. Com descrições que ninguém mais entende. Com notas de rodapé intraduzíveis . Eu. Só eu. Ponho em prática aquilo que entendo por “a soma dos quadrados dos catetos é igual à soma da Hipotenusa” . Num teorema que é meu. Com regras complexas que outrem ignora. No entanto, a mim, faz um sentido profícuo e tangível .
Enfim, em meio a este universo que faz “O Fantástico Mundo de Bob” parecer uma existência irrefutável e “O Fabuloso Destino de Ámelie Poulain” uma história real, dou sentido àquilo que sou. Às coisas que desejo... Essa é minha fórmula . É assim que resolvo a equação . Ora avanço; ora recuo um dos pés para andar. Mexer. Chegar!

"A matemática é a única ciência exata em que nunca se sabe do que se está a falar nem se aquilo que se diz é verdadeiro."
(Bertrand Russel)


segunda-feira, janeiro 11, 2010

De Volta à Terra Natal


Madrugada. Silêncio extremo. Há malas prontas. Sacolas preparadas. E uma ansiedade incontrolável que comprometeu o sono. Pensamentos soltos. Inconstância. Muito tempo se passou desde a última vez. A distância é incomensurável, embora a sensação que prevaleça seja a de proximidade. Existem indícios de que serão bons momentos. Mas não passam de insinuações. Justificativas hipotéticas. Suposições. Suspeitas.

Hora de acordar. Acontece o despertar daquilo que era para ter sido o “ato de dormir”, seguido pela primeira locomoção. Há poucos carros e um silêncio incomum à cidade grande. Ainda é noite. No entanto faz-se preciso seguir pelo caminho. Primeira parada. Muita gente. Diversas bagagens. A espera. As cogitações. O relógio. O embarque.Uma coincidência aqui. Outra acolá. E o deslocamento acontece. Estradas. Pavimentações. Poeira. Vento na cara. Paradas. Comida boa. Vegetação diversa. Outro clima. Rapidamente entardece. Num piscar de olhos é noite. Chove. Faz frio. Os olhos se fecham. Voltam a abrir. Já é outro dia. Falta pouco. Tudo é verde ao redor. Só mais um pouquinho... Basta seguir. Já se pode sentir o cheiro do mato. O odor produzido pelos dejetos das vaquinhas leiteiras. O som dos pássaros raros. O barulho da água dos rios. Parece sonho! Sonhar. Não. Só AR! Os peitos se enchem. Podem-se ver os casebres vindo em direção. Eles aumentam de tamanho. Crescem como se tivessem tomado uma pilulazinha mágica. Ou como se olhos fossem super binóculos especializados na aproximação. E tudo é próximo. E tudo é pró (nada contra). Então, chegam-se à cidade da fantasia. Na qual os amigos de verdade existem e a infância volta à tona. Onde as estrelas ficam mais visíveis e, o melhor, mais próximas. Portanto, é notável que não importa o quanto tempo passe. Esse lugarzinho quase celestial continuará a existir. E todos são BEM-VINDOS!

"Cidade natal:
Até as flores do espinheiro,

No mesmo lugar."


(Paulo Franchetti)