terça-feira, dezembro 15, 2009

Respeitável Público...

Caso fosse possível listar, em um ano, a quantidade de denúncias que estamparam as primeiras páginas de jornais, capas de revistas e sites, um trabalho extenuante, e possivelmente jocoso, far-se-ia necessário. Todavia, não é topicalizar os escândalos dos setores públicos e/ou privados que, aqui, constituir-se-á em notícia.

É indubitável que, embora indignado, os brasileiros – ou a grande maioria dos mesmos – tenham adotado uma postura passiva, na qual a omissão quanto ao ato de indignar-se tornou-se fator preponderante. A sensação perceptível é a de que, embora insatisfeitos, os cidadãos prefiram a conformidade à justiça. A demagogia à explanação daquilo que é verídico. E tudo coaduna para a formação e propagação de uma realidade misteriosa; pautada no cinismo ultrajante, que faz dos cenários social, político e econômico do Brasil um picadeiro sob os holofotes da impunidade.

Ao cruzar os braços, a sociedade brasileira reafirma a vertente que insinua sua “memória curta”. Evidencia que, apesar de honesta, é capaz de conviver, em silêncio, com a corrupção, o que traduz a sensibilidade ao conformismo frente a situações e acontecimentos ilegais. Como se fizesse necessário uma bofetada – tão agressiva e dolorosa quanto a que envolve os paraísos fiscais e o nepotismo. Capaz de, magistralmente, tirar a população nacional de tal modo do lugar-comum a ponto de fazer coexistir e repercutir a essência do Brasil.

Faz-se válido salientar que, ao se sugerir a disseminação dos valores brasileiros, a idéia não é suscitar as paixões febris inerentes à nação – estas já são, de maneira incomensurável, difundidas através do carnaval, futebol e Cia Ltda. A proposta, portanto, pulula no campo da prudência conscientizadora, habilidosa para combater o banditismo estridente que grita, mas muitos preferem fingir não o ouvir.

Em suma, verifica-se a necessidade de se fazer valer os direitos legais dos indivíduos. Cabe a estes, então, arrancar a lona que cobre o circo – não de comédia, no entanto de horrores – armado em mentiras que podam o aproveitamento dos benefícios que lhes são peculiares. Exigir punição e justiça, em alto e bom tom, comprovará a disponibilidade de enfrentar o árduo e penoso caminho rumo a um espetáculo moderno, ético e, por fim, de bom gosto.
"A política é um grande circo no qual a platéia, o povo, é que faz marabalismo e anda na corda bamba."
(Marques Magno Salustiano)

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Questão de Essência

Aquilo que era para ser escrito, por algum motivo que só as máquinas conseguem explicar, não foi aceito...

De tudo o que havia proposto, então, restam as palavras de um grande pensador...








"Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes."

(C.S. Lewis)

sexta-feira, outubro 16, 2009

Eu. Quem Sou?

"Quando eu me pergunto quem sou eu, sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta?" (Geraldo Eustáquio)

Eu, que fora de mim, me encontro assim... Nos extremos; deslocado; do lado. De dentro... Isento, mas atento. Tento a cada ação encontrar fundamento. Do lamento em andamento. Irrefutável tormento... Invento. Com o vento. Na cara. Cabelos. Elos. Belos. Olhos. Tristes. Ristes. Istes. Tão Úmidos. Munidos. Unidos. Idos. Dos. Dós. Só. Minto! Sinto.Tô. Dor. Dou. Doou. Cada passo rumo ao infinito. Enfim. Em... Fim.

FETALMENTE

"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela." (Friedrich Nietzsche)

Sim! Ela é minha alma, mas está parecendo um bebê. Encolheu-se tanto que atingiu a posição fetal. Mesmo assim, não há líquido amniótico que a proteja. Canção de ninar que a acalme.
Vitimada pelas eventuais injustiças, essa força vital que nos enobrece perde o fôlego. Sente-se encurralada em um cativeiro hostil. Desconfortável, ela esmaece e como lanterna com a pilha fraca, seu vigor oscila. Trepida.
Esse princípio sensitivo e intelectual reverbera minhas percepções e decepções, diante de tanta periculosidade. Ele se sente ameaçado, como que num viveiro de vespas. Há ferrões e venenos para todos os lados. O espaço é apertado e quase não há o que ser feito. Ainda assim, é preferível mexer-se lentamente a permanecer imóvel.
Como sofre essa substância imaterial e incorpórea! Como atinge com robustez meu delgado corpo! E ele sente. Geme. Suspira e chora. Porque é tudo o que consegue fazer. É só o que pode sentir.
O meu peito sente as contrações. Parece que a bolsa vai estourar. A dilatação necessária foi conseguida. E como dói! Mas não há nada a ser gerado. Isso só lembra que, mais doloroso que nascer, é viver. E eu vivo, mesmo que de modo tão pungente. Vivo para não ser um imprudente. Vivo porque viver é, fatalmente, coisa de gente.

sexta-feira, outubro 09, 2009

O Passado pela Primeira Pessoa do Indicativo



"Can´t Turn Back Time..."

Hoje resolvi abrir o baú. Fuçar objetos empoeirados. Ler as velhas cartas. Relembrar acontecimentos e lembrancinhas esquecidas. Reanimar a inocência.
Consegui resgatar a sensação de um tempo passado. E, portanto, acabado. Época em que vivia sem a preocupação com o amanhã. Quando desconhecia o que era a maldade. Ignorava a vingança... Um período no qual o valor de um sorriso era incalculável, mesmo sendo a mais comum das ações. Eu o via ao correr pelo pátio do parquinho; ao arrancar o fruto da mangueira farta; quando ia à feira acompanhar minha mãe... Ele aparecia com a mesma beleza e vivacidade de um beija-flor, que, embora pequeno, não deixa de chamar a atenção.
Sinto falta desse tempo... No qual a palavra de um adulto inconsequente não surtia tanto efeito em mim. Não martelava em minha cabeça como um prego grande e afiado que perfura a tábua seca.
Faz-me falta esse tempo... Em que eu escrevia errado e cada letrinha tremida e garranchosa era a mais pura comprovação de minha inexperiência e vontade de aprender. Sobre o homem, a natureza e os animais.
Já não volta aquele tempo... Onde eu e meus amiguinhos ficávamos “de mal” e, no mesmo instante, voltávamos a falar. E como tagarelávamos! Feito gralhas desafinadas que não mediam esforços quando o assunto era azucrinar.
Fora-se, então, o bom tempo... Que, de tão harmonioso, desafinou. Que, de tão caloroso, se queimou. Que, de tão novo, envelheceu. Que, de tão sólido, se quebrou...
E agora, no presente, tento juntar os cacos. Remodelá-lo às primeiras formas. Remediá-lo. Recompô-lo, nota a nota... Em vão!
De tudo o que fica, além de minha caixa antiga hoje aberta, são a lembrança e a saudade de um tempo. Gracioso tempo, que não volta jamais.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Caro Uso


Mais que os tesouros sua beleza em mim provoca,
Ó dama inocente,
O desejo de robar-lhe
Fazer-lhe indecente.
Cada traço sutil
E o olhar infantil
Faz-me contemplá-la com um espírito louco,
Ardente e torto.
Suas pernas alongadas e os dedinhos esguios,
Traduzem a imponência de quem espanta o frio
Para bem longe das almas indoutas,
Absortas pelos delírios de amor.
Mas mesmo que eu tente, esforce-me ou fale...
Por mais que eu grite por esse ardor que me redime,
Jamais poderei explicar as perfeições de suas formas;
A delicadeza de seu toque;
O teu rosto como enfoque.
Outras eras chamar-me-iam mentiroso,
Por delimitar o sobe e desce
De teu corpo sinuoso.
Ter-me-iam como sonhador,
Pois traduzi com maestria
A magnificência do que é o esplendor.
Ó Terra dadivosa, quão feliz tu foras
Ao receber esta carícia.
Ela é linda.
Fulgente.
Chamam-na de Patrícia.

terça-feira, outubro 06, 2009

Joguem os Dados


Incrível como nós, humanos, temos um lado mítico acentuado. De alguma forma ou n’algum momento ele nos acomete e tudo passa a ser questão de sorte; obra do destino.
Hoje, depois de muito tempo, tive essa sensação. A de que acordei com o “pé esquerdo”, embora tenha certeza de que o primeiro a tocar o chão tenha sido seu companheiro. Lamentável, apenas... Haja vista que os amuletos destinados a me proporcionar bons momentos pifaram.
Desapareceram os trevos de quatro folhas. Esconderam as mini ferraduras. Os pobres coelhinhos pressentiram o perigo... E juntamente com sua lepidez levaram toda e qualquer espécie de bom presságio.
O destino, então, engraçadinho como ele só, pregou-me peças. Zombou-me a cara. Fez piadinhas infames. Humilhou-me. Esse acaso hostil fez-me sentir mal e não houve padroeiro que me auxiliasse. Testou-me ferrenhamente e, com sua solidez, feriu-me. Chutou meu ego; agrediu minha auto-estima; esbofeteou meu orgulho...
Esse êxito às avessas fez-me fraco. Tornou-me sensível e, portanto, invisível. E tal invisibilidade transportou-me a mundos imaginários, onde figuras folclóricas se personificaram e abriram meus olhos... Tadinho do Saci Pererê! Ele possui uma única perna – e, conseguintemente, um único pé. E adivinhem em que lado ela se encontra?... Exatamente! O esquerdo (e se vira muito bem com ele).
Logo, voltei de súbito ao mundo real e comprovei, irrefutavelmente, que pouco importa embaixo de quantas escadas passemos; quantos gatos pretos vejamos; ou quantas vezes bateremos na madeira para afastar situações indesejosas. Aqui ou acolá situações difíceis nos acometerão. Basta que queiramos – e façamos nossa própria – sorte, remodelando-as. Sim! Este foi o talismã mais poderoso que encontrei (e já tenho até um palpite para a Mega Sena).

domingo, setembro 27, 2009

O Jantar Está Servido



"Indigestão é uma criação de Deus para impor uma certa moralidade ao estômago." (Vitor Hugo)


Não se iluda... Você jamais será bom o bastante. Bonito o suficiente. Inteligente na medida certa. Completamente feliz...

Sempre existirão problemas. Haverá, vez por outra, frustrações... Intrigas! Lamentações. Muita fofoca... Incompreensão. No entanto, acredite: cada um desses dissabores farão a vida mais gostosa. Temperarão momentos únicos. E o farão querer se fartar... Deliciar-se. Degustar. Desgostar. Cada condimento, à sua maneira, abre uma nova panela. Apresenta um novo cardápio. Põe a mesa... E, em meio a este banquete, você escolhe, como quiser, o que será sobremesa e o que se constituirá prato principal. Dite as regras - tal ação poderá evitar indigestões... Oriente os garçons. Escolha a decoração da mesa. Acenda as velas se preferir. Mas, acima de tudo, faça de cada refeição um apimentado pantagruélico. Afinal, essas comezainas não escolhem a mesa do rico ou pobre. Elas, simplesmente, a todos são impostas.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Mudando de Planeta

"Nós não somos o que gostaríamos de ser.
Nós não somos o que ainda iremos ser.
Mas, graças a Deus,
Não somos mais quem nós éramos." (Martin Luther King)
Planeta Terra, setembro de 2009.


Neurose, eis a questão! Enxerga-se aquilo que não aconteceu; ouve-se o indizível; sente-se o “não sentir”... E esta angústia inquietante sufoca, comprime, aperta. Pois, agora, sinto-me obrigado a falar de um passado morto; de fatos outrora enterrados; da podridão que muitas de minhas ações desencadearam.
Eu sempre convivi muito bem com esse caldeirão borbulhante que é a vida. Para ser franco, ele sempre esteve ao fogo, ainda que brando. E o momento, o hoje para ser mais preciso, jogou lenha na fogueira. Elevou a temperatura e eu queimo. Ardo como uma assadura de terceiro grau. E para a mesma não há pomada que dê jeito; não existe refrescância que a suavize.
Sinto-me impelido, aqui, a rasgar o peito. A deixar que ele sangre com veemência como a cachoeira alta em queda livre. O vermelho que jorra é por cada amor não correspondido; por todos os xingamentos guardados; pelas incompreensões desprendidas. Essa camada espessa e rubi que escorre lentamente de mim e sobre mim é a maneira que meu corpo encontrou para protestar por todos os desafetos. Porque, vez por outra, não soube lidar com os defeitos alheios. E o coração transborda, de modo lento e doloroso. Neurótico! (Como o dono daquele que o abriga).
Os espectros que neste instante me infernizam, comprovam o tempo perdido com aspectos banais: roupas não compradas; passeios não realizados; bens nunca adquiridos. Tempo gasto, mal usufruído, que vejo chegar ao fim, evidenciando a voracidade daquilo que é efêmero. Mero!
O instante, em vista disso, transporta a dor, insatisfação e desgosto aos olhos que, tristonhos, resolvem “se lavar”. Muita água. Salgada, brilhante e, portanto, límpida. Elas são sinal de que me limpo das intransigências; das horas de agonia; das situações descontentes. As gotinhas torrenciais higienizam minh'alma. Aquietam aquele que sou e que, de algum modo, fez pessoas sofrerem – intencionalmente ou não.
Mais calmo, portanto (embora não menos reflexivo), esvazio-me de tudo o que é superficial. De cada minúcia supérflua – concreta ou abstrata -, que um dia enrigeceram as grades de minha fria e sombria prisão.
Vou-me embora, porém deixo o meu legado. Não o de tristeza ou de vazio, mas o de completa liberdade.
Com as asas completamente abertas,
Duílio Castro.

segunda-feira, setembro 14, 2009

A Um Certo Alguém...



“O homem é forte pela razão; a mulher invencível pela lágrima. A razão convence; a lágrima comove.” (Victor Hugo)


"Quando o coração sofre" é quando a alma aprende... Momento em que se cresce, pois cada lágrima pode ser revertida em hormônio. Desses que fazem a gente ficar "grandão"... Contudo isso não nos exime da dor. E, por mais latente que ela seja; por mais atroz que ela se apresente; por mais pessoal que ela se mostre (ninguém a sente como nós), queria poder estar aí agora para lhe dar um abraço. Silencioso. Mas apertado e longo... Assim como é a saudade que sinto e a distância que nos separa... Isso me faz evidenciar que "Quando o coração sofre" ele comprova que, verdadeiramente, está vivo. Portanto, deixe-o sangrar. E cicatrizar - ainda que com o sal das gotinhas que caem de seus lindos, embora hoje tristes, olhos. Porque as marcas profundas que nele ficarão deixarão claro que, em momento algum, você teve medo de AMAR.

NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com 

Mais que vê, eu exerguei...




"Nada é mais simples do que a nobreza; na verdade, ser simples é ser nobre." (Ralph Waldo Emerson)





Eu vi um morador de rua. Ele era aparentemente comum. Sujo. Descabelado. Desesperado... Não por comida. Não por uma roupa limpa e quente. Não por um banho... Sabe-se lá porque, sua gana era pelas palavras.
Em suas mãos mal tratadas, uma caneta velha e sem tampa. No colo, um jornal desgastado. E o pobre homem, onde encontrava um espaço, punha-se a escrever. Compulsiva e ininterruptamente. Era como se, preenchendo aqueles espaços, seu vazio interno pudesse ter um fim.
A cena era quase que irreal. Sentado num ponto de ônibus, aquele ser de aparência abandonada tinha brilho nos olhos. Eles eram vivos. Desesperados.
O indivíduo não se cansava de redigir. Parecia desesperado e voraz. Independia do sentido. Não importava a direção! Vertical ou horizontalmente, ele despejava suas palavras. Derramava-as para encher-se. Era uma composição silenciosa, embora o burburinho infindável da cidade não cessasse. Era como se o mundo houvera parado e tudo o que eu consegui fazer era observá-lo. Impressionado! Intrigado. Descrente... E então notei, mais uma vez, que a realidade pode ser dura como o ferro fundido. Pode, com vigor, comprometer meus sonhos, embora àqueles que a compõem jamais deixem de sonhar.
Mais do um morador de rua, eu vi um homem. Grande e nobre. E isso me inquietou...

NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com 

quinta-feira, setembro 10, 2009

A Sátira de Propagar(me)





"Amplie. Questione. Atulaize. Seu conhecimento." (Texto Publicitário para campanha do Jornal O Estado de São Paulo)






Outro dia estava pensando - quando eu quero eu consigo! - e notei que para um determinado produto há inúmeras variações. Por exemplo, para o detergente em pó, podemos ter: Multiação, Toque de Comfort, Classic Toque de Comfort, Aloe Vera, Toque de Comfort Lilás, Baby Progress Total, Multiação Active Clean, Progress - isso tudo só pra uma marca. Perguntei-me: "é a ação do sabão que melhora ou a sujeira que evolui?" E eles ainda arrematam afirmando: Porque se sujar faz bem. (Só se for para o cofre da Unilever, que não para de crescer).Cremes dentais. Total 12, Max Fresh, MaxWhite, Máxima Proteção Anticáries, Herbal, Bicarbonato de Sódio, Ultra Branco, Tripla Ação. Notei tanta "multiplicidade", que me assustei. Seria por não usar todas estas pastas que apareceram os banguelas, as dentaduras e, por conseguinte, o Corega Tabs?Refrigerantes: cola, laranja, uva, maçã, abacaxi, tuti-fruti, limão guraná... Na Índia - are baba - até de xixi de vaca já tem (pasmem!) - Eles que não me venham querer encontrar reaproveitamento em sêmem de cavalo.E os preservativos? Misericórdia! Tem com sabores diversos - praticamente os mesmos dos refrigerantes - por isso minha preocupação com as "produções equinas" - e os que se adaptam ao tamanho e espessura peniana. É mole? Não! Para usar, só estando duro mesmo (lá vem os cavalos de novo).Esponja de aço. Com o crescimento da concorrência, a marca "n° 1" - desculpem a alusão à cerveja - resolveu reafirmar as 1001 Utilidades. Partindo deste pressuposto, hoje não acho tão "de pobre" assim usar o produto como "melhorador do sinal" na antena da TV - reparem: já encontrei duas grandes funções para a palha de aço (lavar louças e manter a imagem televisiva "limpinha"). Só faltam 999.Analisando todos estes fatores - não quero mais me estender nem tornar o texto mais penoso do que já está - pergunto-me: "Será melhor prosseguir cursando Propaganda, ou passar a investir no humor? Já sei qual é a resposta: NDA (nenhuma das alternativas anteriores).
PROTESTOS: Se o "Casseta e Planeta" pode fazer "humor" eu também posso!

Se peças como as da Dolly podem ser veiculadas, por quê não as minhas?


 NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com

terça-feira, setembro 08, 2009

É cinza. É frio. É chuva...



"A nossa atmosfera estava carregada de tempestade,

A nossa própria natureza nublava-se,

Pois não tinhamos encontrado caminho algum..." (Nietzsche)


Elas caem do céu e, em contato com a possa, respingam em forma de disformes coroas... Dia chuvoso. Pesadamente cinza. Como se um canhão blindado flutuasse, de modo vacilante, sobre minha cabeça.
O hoje está triste e resolveu deixar suas espessas e intermináveis lágrimas caírem em mim. Está tão melancólico que se apresenta como a noite, sombria e fria. Iluminada, somente, pelas fraquejantes lâmpadas alaranjadas. Fachos inconstantes e oscilantes. Irônicos. Hesitantemente hostis.
E tudo coopera para o despertar do sonolento saudosismo. Ele tem sono pesado, mas este despertador trovejante é alto o bastante para colocá-lo de pé. Então, ele acorda... Devagarzinho. Despreguiçando-se e ocupando tanto o espaço, a ponto de deixá-lo sem ar. Respirar fica difícil. E esse mergulho intenso nas lembranças requer, vez por outra, a volta à superfície. Exige oxigênio. Se assim não for, sufocarei. Procurarei as moléculas, mas elas faltarão.
Dói, eu sei... Machuca, deixando evidente que é impossível não resgatar memórias. Não as trazer à tona... E aquele cheirinho de infância domina o nariz... Os amiguinhos da escola voltam a gritar, sorrir e convidar-me para brincarmos, despreocupados, pelo parquinho. E eu me jogo. Brado! E comprovo o quão importantes foram. Quão amáveis se tornaram... Uma época em que a inocência ditava as regras e nos faziam livres de qualquer norma que não fosse viver. De verdade. Sem a menor preocupação com o tempo; com o clima; com as estações. Tudo era de mentirinha. Essa era a mais pura verdade. Entretanto eu a perdera. Tornou-se abstrata. Distante demais. Imperceptível e indecifrável. Escoou pela calha desgastada pelo vento e a força das tempestades. Como a que agora cai e teima em perturbar. Molhar. Desencadear resfriados. E aqui minhas narinas tremem num abre e fecha descompassado. Irritam os olhos que, fracos, denunciam o estrago que o temporal é capaz de causar. Um suco brilhante se forma. Em tal grau obeso que se assemelha a límpidos cristais, só que na forma líquida. Ele se derrama em sinal de protesto e, com ímpeto, rola face abaixo até despontar no queixo fraquejante e furtivo.
Um raio.
Um estrondo!
Um silêncio cortante...
Sinto um arrepio. Suspiro. “Que dia frio!” Quanta inquietação! Estou cheio. Como os riachos e lagos que, pelo excesso das águas pluviais, transbordam. Derramam... Justificando o ensinamento tempestivo do filósofo grego, Epicuro, que afirmara que “os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades.” No entanto eu só um mero marinheiro de primeira viagem...

NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com 

sexta-feira, setembro 04, 2009

Quase no Rol da Fama

"Não se conquista a fama deitado sobre leves plumas." (Dante Alighieri)

Eu tenho alma de artista, sabe? Isso independe de talento. Acho que um dia serei famoso e reconhecido, e até que os holofotes hollywoodianos me alcancem, vou treinando... Já concedi entrevistas, em meus devaneios, a inúmeros apresentadores, dentre os quais se destacam Jô Soares, Marília Gabriela e Fernanda Young.
Sempre gostei das chamadas “rapidinhas” – e não tem nada de sexual nesta conotação, seu leitor pervertido! Abaixo, portanto e a despeito de qualquer baixaria, transcreverei uma na íntegra!

Nome: Duílio Castro (mas, se pudesse escolher, não seria este).
Idade: Mais do que gostaria e menos do que aparento (a mental segue a mesma linha).
Naturalidade: Baiano (sem zoeira).
Profissão: Estudante Desempregado (acabei de criar esta nova categoria).
Signo: Aquário (com um montão de peixinhos, algas e cavalos-marinhos).
“Hobby”: Willians (brincadeira! Os mesmos de um cara desocupado e sem noção: masturbação).
Prato preferido: Um bem grande e fundo, que é pra caber uma montanha de comida (na boca de um artista a falta de educação soa tão agradável e sutilmente despojada - o que ainda não é o meu caso).
Um lugar: Ao sol (o que é bem difícil numa cidade como a de São Paulo).
Um Perfume: Hugo Boss – tá! Mal tenho grana para o desodorante roll-on.
Uma mulher: Maria (né a figura bíblica não. É qualquer uma que soa pra viver e manter a família viva em meio a esta selva de pedras – copiei isso de Milton Nascimento).
Um homem: Papai Noel (este, pelo menos, dá presente. “Ho-ho-ho”).
Um filme: Pornô (são os mais verdadeiros. A galera não tem de fingir ser o que não é e fazer o que não gosta).
Um cantor: Latino (gênio das letras – “... vai rolar bunda lê-lê...”!).
Uma cantora: De funk (canta muito!).
Ator: José Sarney (já viu a cena em que ele diz não saber o que é um Ato Secreto? O cara arrasa.).
Atriz: Rita Cadillac (essa sim gosta e sabe aproveitar bem um longa).
Uma personalidade: Um big brother – eles afirmam tanto que tem uma, que acabo acreditando.).
Uma música: “Segura o Tchan”.
Um país: O Iraque – meu sonho é conhecer o Osama Bin Laden, já que Yasser Arafat já bateu as botas.
Um sonho: Bom... Além de conhecer o terrorista já citado, quero muito ser o maior publicitário do Brasil. Como esse pedido é muito difícil de ser realizado, conhecer Ibiza e poder andar pelado por lá já tá bom. Agora, se este sonho também for impossível, candidato-me para Presidente do Brasil.

NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com 

quarta-feira, setembro 02, 2009

Aprendi que é Necessário Apreender


Aprendi que, na maioria das vezes, é preciso ficar quieto, quando a vontade mais intensa é a de gritar.
Entendi que, embora as pessoas sorriam, não significa que sejam simpáticas. Elas olham, mas não vêem; tocam, porém não sentem; elogiam, entretanto o enxergam como um ser “diferente”.
Estanco; me espanco; espanto! Martirizo-me por detalhes que, definitivamente, não valem à pena. Procuro agitar, incitar, contagiar. Perda de tempo? Mero intento? Desalento!...
Eu tenho sonhos. Não os tenho mais... Eles me projetam rumo ao futuro; os invejosos me querem lá atrás.
Madrugada e minha companhia é a insônia. Perturbadora, desencadeia medos, ansiedades, receios... Tento conclamar silêncio em mim, mas o que evoco – sem saber por quais vias – são murmúrios, lamentos, agitações. Penhasco! Lançar-me-ei perfidamente ou permanecerei determinado, construindo a ponte?
Uma palavra? “Paradoxal”: ave sem penas, flor sem cheiro, sol sem brilho, carro sem freio... Bravo: sem o menor talento para o brado!
Descomunal, atemporal, insosso, desfeito, defeito... Efeito. Contrário, retrógado, disforme... Forme. Fome... Mordi, mastiguei, triturei, engoli. Sapos. Desaforos. Sandices. Acusações.
Pensei, recapitulei, devaneei... Dormi!
... Silêncio! ...


NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com 

terça-feira, setembro 01, 2009

Disserto, De Certo

"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada." (Clarice Lispector)


Interessante é a atividade de dissertar . Tanto para quem faz quanto àqueles que apreciam, afinal não há quem não queira ser notado. Trata-se de uma necessidade. Necedade. E em meio a esta ignorância crassa, eu me encontro. E disserto. De certo. Embora nem sempre dê certo... Pois a sandice atropela a razão. Sufoca o pensamento. Impede e impele a ação. De ser feliz. De fazer-se contente. De realizar-se... Em meio aos sonhos obscuros e disformes, que se tornam tangíveis quando a caneta encontra a frágil folha papel e a obriga a conter os devaneios. A aturar a estupidez. Que a entope de fragmentos sutilmente lúdicos, mas profundamente abstratos. De certo. As palavras dizem e correm como o garoto imprudente que xingou seu inimigo e teme ser pego. Discorrem... Como a água corrente da impetuosa cachoeira. Enxurrada de beleza, imprudência, barulho e emoção. Disserto... Com a alma, mesmo em meio à incoerência. Com vontade e gana que, sempre, dê certo. De certo...

sábado, agosto 29, 2009

Gotinhas, cuidado!


“Pic... Pic... Pic...” É o som que fazem os pingos ao caírem da torneira mal fechada. Cada um cai de um jeito e com determinada intensidade e, juntos, formam uma pequena poça que, pesada, arrasta-se rumo ao íngreme caminho. Desliza... “Pic”... Para... “Pic”... Volta a escorrer... “Pic”... Devagar... “Pic”... Agora rápido... “Pic, pic, pic”...Um intervalo. Nada de pingos. Por dois ou três segundos, apenas. Eles recomeçam, só que agora de maneira mais intensa. O pequeno ajuntamento de água volta a jorrar em direção aos declives. Aqui. Ali. Acolá. Pra baixo, esquerda e direita, até encontrar o abismo que o seduzia; chamava-o; puxava-o; “pic”... Engolia-o. O ralo.



NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com

Ecdise Metafórica

"Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço." (Immanuel Kant)

O sol se pôra, lenta e gradativamente, enquanto Sirufa, uma habilidosa, porém pequeno caranguejo, dirigia-se ao seu “porto seguro”... O dia fora longo e pesaroso, pois, como de costume, tivera sido alvo de chateações e infortúnios desconcertantes. Não bastasse o fato de sentir-se só, a miúda crustáceo ainda tinha de suportar chacotas e piadinhas infames.
Sirufa, como todo animal que se preza, tentava ignorar os comentários e deboches que os demais “nutriam” ao seu respeito, mas constantemente, sempre que o sol começava a se esconder, um sentimento de angústia e incertezas a assolava... Ela admitia para si mesma que, embora diferente dos demais, não era inferior. A dura carapaça, as numerosas patas, a forma peculiar como se movimentava... Todos a tinham como uma estranha. “Mas o que é ser ‘normal’?”, pergunta-se momentaneamente, em vão, a si mesma.
Enquanto caminhava, desengonçada, tropeçou num objeto estranho... Era um “troço” de formato esquisito, com ambas as extremidades pontiagudas. Curiosamente, possuía certa curvatura e flutuava. Este último detalhe só se tornou perceptível porque uma onda alcançara o objeto, levando-o consigo ao mar. A triste caranguejo ficou a observá-lo enquanto, de modo lento, ele desaparecia no horizonte... Neste mesmo momento, Sirufa notara a primeira estrela no céu daquela que seria, como de costume, mais uma angustiante noite. Continuara a andar – só que agora um pouco mais depressa – até encontrar sua casa, um lindo e bem planejado buraco à beira mar. Entrara e, prontamente, pôs-se a deitar. Não queria continuar lembrando das insatisfações daquele penoso dia. Deitara e, sem que tivesse como notar, adormecera... Gostosa e profundamente, dormira – como há muito não fizera.
Fora despertada, na manhã seguinte, por um fino e penetrante raio de sol. Sentia-se, estranhamente, bem. Por quê? Era incapaz de explicar. Saíra para “respirar ar fresco” e assustou-se: em frente à sua casa encontrava-se parado uma forma estranha... Era feita de resinas e fibra de vidro. Trava-se, indiscutivelmente, da mesma coisa que vira no último entardecer. Só que, pela pouca luz do dia anterior, não percebera o quão colorido e belo era o objeto. Como parara ali? Quem o trouxe? O mar não o havia levado? E prontamente percebeu que, para tais questionamentos, não encontraria respostas...
Sirufa, instintivamente, olhou para o lado e, no mesmo momento, avistou Carangurfe, um amigo de quem gostava muito, mas que pouco via, pois morava no mangue. Esfregou apressadamente os olhos para ter certeza de que não se tratava de uma miragem e, confirmando a suspeita, correu-lhe ao encontro:
__ Gurfe, é mesmo você? – Perguntara, ofegante, Sirufa.
­­__Claro, gatinha... Em carne, patas e muita queratina. – Brincou o descolado caranguejo.
Sem titubearem, abraçaram-se profusamente com aqueles seus cinco pares de patas cada um, tornando-os um emaranhado de uma figura irreconhecível e, por conseguinte, indescritível. Ali ficaram conversando por mais alguns minutos, até Carangurfe declarar:

__Estou me mudando para cá. O mangue ficou “pegajoso” demais . Comprei um modesto “buraco” a três coqueiros daqui e pretendo viver de modo diferente.
Sirufa mal acreditava no que ouvia... Gaguejando, balbuciou:
­­__Is - isso é algum ti- tipo de piada?
­­__Não, guria... Sou metido a engraçadinho, mas agora falo sério.
Sirufa sentia-se extasiada e, rapidamente, convidou o amigo para fazer-lhe companhia no café.
Ao passarem pela porta, o amigo recém-chegado observara o utensílio parado junto à entrada e sorriu de maneira insinuativa.
O desjejum fora apetitoso e bastante variado... Degustaram toda a espécie de resíduo orgânico, devidamente selecionado pela anfitriã.
Quando terminaram, o visitante fez elogios à alimentação e acrescentou:
­­__Se surfar tão bem quanto é talentosa para trabalhos manuais, tornar-se-á uma grande atleta.
Apática, Sifufa acrescentou:
­­__Sur... o quê? Do que está falando?
Carangurfe sorriu e, em seguida, acrescentou:
__Vi aquela bela prancha lá fora e, como há muito não nos vemos, achei que se tornara uma surfista. Pela sua reação, equivoquei-me!
Transtornada, a crustáceo miúda confidenciou:
­­__Para ser sincera, nem sabia como se chamava aquele objeto. É assim que o denominam? “Prancha”? (Carangurfe acenou positivamente com a cabeça e Sirufa continuou) Estranhamente ela apareceu na porta de casa hoje de manhã depois que, ontem, a vi sendo levado pelas ondas rumo ao infinito. Não sei nem por que nem como, mas ao acordar ela estava aí...
__Sabe Siru – falava, agora, o jovial caranguejo – ficamos muito tempo sem nos ver... E acho que muita coisa aconteceu nesse período (Sirufa sorrira). Para me sustentar e, principalmente, por ter descoberto o quão prazeroso é surfar, tornei-me um especialista. Trenei grandes nomes do esporte como: Kelly Slaterguejo, Sofia Crustáceonovich e Andy Ironsiri.
Sirufa já ouvira muitas vezes esses nomes, mas sem dar muita atenção... Inclinou-se sobre as dez patas demonstrando interesse e ouvira, por mais de três horas, a história do surfe e as conquistas do velho amigo.
No final da manhã, sentia-se eufórica... Interessara-se em demasia pela prática e, impulsiva, perguntou de modo estridente:
­­__Você me ensinaria?
E Carangurfe, de sorriso nos lábios, arrematou:
­­__No fundo, no fundo sabia que minha mudança transformaria muita coisa. – E, após alguns segundos (o que a Sirufa parecera uma eternidade), confirmou: É claro que sim, minha cara!
Abraçaram-se da mesma maneira esquisita com que o fizeram mais cedo e, como se lessem o pensamento um do outro, digiram-se à saída.
Sifura, mais apressadamente, correra rumo ao objeto que, agora, conhecia. Admirou-o por alguns segundos; pegou-o nas patas; pensou nos acontecimentos da noite passada e concluiu consigo mesma: “sou uma sonhadora. Acredito que, como faço com esta, poderei, de hoje em diante, sempre carregar e utilizar bem as ‘pranchas’ da vida”.
Dirigiu-se ao mar onde, neste momento, Carangurfe já a esperava. Recebeu, com a curiosidade e expectativas de um “sirizinho”, as primeiras instruções e, sem importar com aqueles que a observavam – e, em geral, faziam-na motivo de escárnio – pôs-se de pé na frágil tábua e remou... Ao tentar se equilibrar pela primeira vez, como era de se esperar, não obteve muito sucesso. Aventurou-se em mais sete ou oito tentativas até sentir a gostosa sensação da brisa batendo contra sua face e cabelos. Aquela experiência fora efêmera e inusitada, mas deliciosa. Ao perder o equilíbrio e cair no mar, Sirufa entendera que aquele seria, para ela, um novo estilo de vida, por meio do qual libertar-se-ia de todos os dissabores e rótulos com os quais estava acostumada a conviver.
Treinou mais voraz e dedicadamente ao longo da semana, pesquisando tudo o que podia ser útil a respeito do surfe. E assim prosseguia: conciliando teoria e prática da maneira mais proveitosa possível.
Após alguns meses de treinamento intenso, era capaz de se considerar diferente... Não se tratava de uma mudança física, mas interior. Era a mesma, entretanto sentia-se mais forte e segura. Levantara disposta e, portanto, encaminhou-se para o mar, para esperar as ondas. Remou o mais longe que conseguiu e se firmou na prancha. Momentaneamente, percebera que uma bela onda se formara e, com os pés firmes, onda a onda ela escrevia poesia sobre a água. Eram escritos tão únicos e de tão perfeita harmonia que o que ficava na espuma não se podia apagar: era a própria grafia do poema do mar.
Sirufa sentia-se bem... Enquanto saía do mar, refletia sobre o seu passado. O surfe, que nunca praticara ou conhecera, era agora seu conhecido. Há muito que freqüentava a beira do mar, admirando horizontes amplos... Estivera sempre em movimento e emitindo sons e o esporte, agora, surgira para “dar novo rumo” à sua história.
Com o passar dos anos, inscrevera-se em campeonatos... Perdera alguns, ganhara outros... Sorrira, chorara; frustara-se, vencera...
Agora, contudo, via-se diante de uma situação complicada: tinha de se mudar. “Expandir” seus horizontes; crescer. A necessidade faria com que Sirufa se afastasse do mar, porém com a certeza de que mesmo não o vendo, sua existência seria onipresente. Sons, imagens, cheiros e movimento eternos. Adorava o mar! Longe dele, veria surfistas na água ou fora dela e sentir-se-ia cúmplice do seu prazer. Seguiria seu caminho procurando novas ondas. Novos desafios. Como o pequenino crustáceo sentado olhando o mar e manobras de surfistas mais experientes, sonharia, observaria e anotaria, ainda que mentalmente, o material para novas descobertas.
Àquela incomum crustáceo far-se-ia impossível elucidar com perfeição o que era o surfe. Diante dessa enunciação, a tristeza seria inevitável. No entanto, contrariando o bom senso, ficaria repleta de alegria. Afinal, o esporte era algo místico e de atmosfera contemplativa; de movimento inenarrável. Uma composição híbrida de sensações insólitas... Tinha-o como genial e enigmático. A bordo de um bloco de resina e poliuretano (materiais estes que já conhecia bem), perceberia emoções que se multiplicam incessantemente. Imaginava, naquele instante, o momento mágico que se alinha ao movimento da onda, comparado a uma excitação explosiva repleta de suavidade. Paradoxal, entretanto prazeroso...
Cogitava que seus “acusadores” – aqueles que a julgavam pela aparência – a teriam como um “forasteiro polinésio”, derramando endorfina por onde passava. Contudo, consolava-se entendendo que brotar e derramar essa sensação de volúpia traria um grande sentido à sua vida.
Seu rosto, agora descontraído, era ostentado por uma felicidade inexplicável, algo que minimamente um simples andante poderia arriscar-se a dizer: “ela está de zombaria, de que ele tanto sorri?”. “Desculpe-me, mas essa bem-aventurança é para poucos” – respondia-se internamente.
Sirufa, neste instante, encontra-se num novo habitat. Tudo é conturbado e agitado, todavia, num instante, tudo se cala. Fecha os olhos e pode ver: água e céu. No meio disso, a pequena se encontra com uma consciência palpitante. Então, rema para a onda e vai em velocidade espectral rumo à viajem no tempo. Retorna ao ponto onde pela primeira vez deu por si... Surfa e, em seguida, mergulha no mar, depois de se encontrar.

sexta-feira, agosto 28, 2009

O que Indicam os Termômetros



"O frio justifica as meias." (Autor desconhecido)



O vento soprou forte sobre a minha pele e ela respondeu… Fez com que todos os pêlos que detinha se ouriçassem, como o presságio de um iminente acontecimento.
Estremeci, afinal fui pego de surpresa. Alguma coisa ameaçava acontecer... Restava-me saber o que era e quando sucederia.
Gradativamente, o céu tornou-se escuro, num tom de cinza inquietante e revelador. A temperatura caiu... O ânimo desapareceu. Formou-se uma ventania, depois um silêncio que, de tão profundo, tornara-se assustador.
Abri as cortinas, contemplei o céu... Perdi-me... Voltei a me encontrar. Nesse instante, vi algo suave e delicado. A forma contrastava com o cenário escuro. Era leve... De repente, eram dois... Noutro momento, três... Em seguida, era impossível contá-los. Os flocos eram parecidos, embora uns fossem menores ou maiores que os outros.
A queda moderada dos cristais de gelo era um espetáculo! (Infindável, diga-se de passagem). Em poucas horas, a nevada envolveu o lugar. Tudo ao redor era branco. A cor era tão intensa que irritava os olhos... Embora todas aquelas formas cristalinas se unissem formando um todo, eram completamente diferentes. Nenhuma estrutura era igual à outra. De uma unicidade e beleza imperceptíveis a “olho nu”, mas que, em conjunto, tornavam-se tão perfeitas e harmônicas como elas próprias em suas individualidades.
Estava frio... Os termômetros marcavam “a baixo de zero”. Entretanto, a paisagem tornara-se linda! Hipnótica, de tão encantadora... E foi aí que entendi a mensagem: HÁ BELEZA E APRENDIZAGEM NO INVERNO!
Como o pinheiro vitimado por batidas sutilmente estranhas, vi-me alvo das nevascas da vida. Belas, mas intensas; destruidoras, porém docentes; fria e clara, leve e branca; um fenômeno que, outrora, temia.
Decidi parar de olhar... Quis senti-la! Afastei-me da vidraça e caminhei em direção à porta. Agasalhei-me... Protegi-me... Respirei fundo... Saí!
Optei por encará-la de perto... Marcá-la... E, então, caminhei... Sem rumo, prumo ou destino. Um passo de cada vez... Pisando firme e forte, deixando pegadas, mas sem me preocupar com o caminho... Com a certeza, somente, de que meus passos na sinuosa estrada eu deixei.

Nós, os Suínos...

"Na alma da maioria dos homens grunhe ainda, baixo e voraz, o focinho do porco". (Abílio Guerra Junqueiro)



Essa história de radical e origem da palavra é bastante interessante. A partir de um conjunto de letras é possível originar inúmeros outros verbetes. Mas este espaço não é para a Língua Portuguesa. Na realidade a “coisa” é muito mais literária que sintática. Por isso, volto ao “x” da questão e saliento minhas proposições a respeito de uma palavra sobre a qual estive pensado de maneira metafórica.
Trata-se da/de “sujeira”, haja vista que um dos assuntos mais comentados da atualidade é a gripe do porco (higienizar-se faz parte da prevenção). Desse modo, com o radical do verbete citado – eu não fiz nenhum estudo aprofundado ou etimológico – pode-se formar “sujeito”. É isso mesmo. Eu e você. Todos nós. Cada ser humano da esfera terrestre. Não existe escapatória! Há uma pocilga universal que nos cerca (se as comparações parecem duras demais, lamento. A intenção não é ser imparcial. Pra isso existem os chamados jornais e revistas, pelos quais se paga. Ler, aqui, é gratuito). Uma podridão que nos envolve. Uma lavagem mundial que nos é servida e a qual já nos acostumamos comer. Sim, é nojento. A associação parece ridícula. Absurda. Entretanto consistente. Somos uns porquinhos “de primeira” – se é que isso é possível. Conviver com situações vexatórias, tais como (não me aprofundarei neste ponto): impunidade, injustiça, violência, repressão, abuso de poder e desigualdades sociais são sinônimos de porcaria, caro leitor. É quase que erguer um cartaz com os dizeres: “Porque Se Sujar Faz Bem” (que me perdoe a Unilever, mas não encontrei afirmação mais apropriada.
Portanto, presuntinho, se você é do tipo que se acomodou e se encontra “embutido” em seus sonhos e ideais particulares, você é tão porco quanto qualquer outro. Se não tomou atitudes radicais (e agora não mais me refiro às palavras), pode até fazer menos sujeira, entretanto continua a conviver com aqueles que vivem no lamaçal e esguicham lama para todos os lados. Neste grande chiqueiro que conhecemos como mundo você até pode ser, apenas, um porquinho. Contudo compõe uma manada regida por gordos barrões.


NOTA: Imagem retirada do www.deviantart.com 

Para Desmistificar

"Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos
a um elogio." (Sigmund Freud)


A galera, em geral, me acha meio metido e anormal, sacumé? Mesmo eu não sendo nenhum Brad Pitt. E é por isso que tive de dar uma levantada na moral desenvolvendo outras características, tá ligado?
Eu não sei direito, mas acho que, na música e nas artes, eu compenso a cara feia. Entendo um pouco de afinação e curto pra cacete essa coisa de interpretação. Sem falar na dança. Arrisco uns passinhos e até me dou bem.
Outra coisa que acho da hora é esse negócio das palavras. Cara, é animal o bagulho. Juro! Começo a rabiscar e, num estalo, faço um texto bacana. Putz! É muito louco. Às vezes nem acredito que foi eu que fiz.
Ler é massa também. Já li uns oito livros este ano. Cada um mais firmeza que o outro. Os autores mandaram muito bem. A cada página eu descubro uma coisa nova; uma palavra cabreira e maneira; um lance legal. Daí eu até aprendi a conversar direitinho. Falo umas frases descoladas e uns camaradas, mesmo sem entender, curtem. Mas peraí. Se eu sou o "bam bam bam" escrevendo, por quê esse bando de gírias e vícios de linguagem? Saca só, mano: é por isso tudo que expliquei sobre mim que a turma me acha uma pessoa cheia de "não-me-toques"; meio mala. Aí eu pensei: " Pô, vou mostrar que aquele ditado que diz que 'as aparências enganam' faz sentido, truta. Não é porque eu pareço um fresco engomadinho que sou como aparento. A pegada é muito mais louca, tá ligado?" Foi por isso que adotei essa nova forma de mostrar o que sou e como penso. E quer saber? Tô até curtindo. Quem sabe, assim, a galera note que não importa como você se apresenta, mas o que você é.
Eu sou esse aqui, mermão. Sem máscara ou disfarce. Não tem nada a ver com a forma como falo ou escrevo. Tem a ver com um bagulho que vem de dentro; sai da alma, saca? Então, preste atenção, mané! Antes de sair julgando uma pessoa, pense que você também pode estar sendo julgado e, na real, ninguém gosta de carregar um peso que não é seu, velho.