quarta-feira, setembro 16, 2009

Mudando de Planeta

"Nós não somos o que gostaríamos de ser.
Nós não somos o que ainda iremos ser.
Mas, graças a Deus,
Não somos mais quem nós éramos." (Martin Luther King)
Planeta Terra, setembro de 2009.


Neurose, eis a questão! Enxerga-se aquilo que não aconteceu; ouve-se o indizível; sente-se o “não sentir”... E esta angústia inquietante sufoca, comprime, aperta. Pois, agora, sinto-me obrigado a falar de um passado morto; de fatos outrora enterrados; da podridão que muitas de minhas ações desencadearam.
Eu sempre convivi muito bem com esse caldeirão borbulhante que é a vida. Para ser franco, ele sempre esteve ao fogo, ainda que brando. E o momento, o hoje para ser mais preciso, jogou lenha na fogueira. Elevou a temperatura e eu queimo. Ardo como uma assadura de terceiro grau. E para a mesma não há pomada que dê jeito; não existe refrescância que a suavize.
Sinto-me impelido, aqui, a rasgar o peito. A deixar que ele sangre com veemência como a cachoeira alta em queda livre. O vermelho que jorra é por cada amor não correspondido; por todos os xingamentos guardados; pelas incompreensões desprendidas. Essa camada espessa e rubi que escorre lentamente de mim e sobre mim é a maneira que meu corpo encontrou para protestar por todos os desafetos. Porque, vez por outra, não soube lidar com os defeitos alheios. E o coração transborda, de modo lento e doloroso. Neurótico! (Como o dono daquele que o abriga).
Os espectros que neste instante me infernizam, comprovam o tempo perdido com aspectos banais: roupas não compradas; passeios não realizados; bens nunca adquiridos. Tempo gasto, mal usufruído, que vejo chegar ao fim, evidenciando a voracidade daquilo que é efêmero. Mero!
O instante, em vista disso, transporta a dor, insatisfação e desgosto aos olhos que, tristonhos, resolvem “se lavar”. Muita água. Salgada, brilhante e, portanto, límpida. Elas são sinal de que me limpo das intransigências; das horas de agonia; das situações descontentes. As gotinhas torrenciais higienizam minh'alma. Aquietam aquele que sou e que, de algum modo, fez pessoas sofrerem – intencionalmente ou não.
Mais calmo, portanto (embora não menos reflexivo), esvazio-me de tudo o que é superficial. De cada minúcia supérflua – concreta ou abstrata -, que um dia enrigeceram as grades de minha fria e sombria prisão.
Vou-me embora, porém deixo o meu legado. Não o de tristeza ou de vazio, mas o de completa liberdade.
Com as asas completamente abertas,
Duílio Castro.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O melhor apresentado na atividade, sem dúvida! Fico aliviado de ter conseguido por aqui, ia ser uma pena ficar perdido no "limbo" com tantas outras criações nunca devolvidas =(

    (repostando pra corrigir um erro que deixei passar)

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  3. Essas reflexões escritas e lidas sempre me tornam mais humana...

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  4. Obrigado, Thi!

    Sua "classificação" me congratula, embora eu não concorde...

    Você é muito gentil.

    Abraços.

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  5. São em pessoas como você que pretendo me apoiar... Quem sabe, assim, a humanidade entenda sua importância/sentido.

    Amo-te, Cris!

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