"Nós não somos o que gostaríamos de ser.
Nós não somos o que ainda iremos ser.
Mas, graças a Deus,
Não somos mais quem nós éramos." (Martin Luther King)
Planeta Terra, setembro de 2009.
Neurose, eis a questão! Enxerga-se aquilo que não aconteceu; ouve-se o indizível; sente-se o “não sentir”... E esta angústia inquietante sufoca, comprime, aperta. Pois, agora, sinto-me obrigado a falar de um passado morto; de fatos outrora enterrados; da podridão que muitas de minhas ações desencadearam.
Eu sempre convivi muito bem com esse caldeirão borbulhante que é a vida. Para ser franco, ele sempre esteve ao fogo, ainda que brando. E o momento, o hoje para ser mais preciso, jogou lenha na fogueira. Elevou a temperatura e eu queimo. Ardo como uma assadura de terceiro grau. E para a mesma não há pomada que dê jeito; não existe refrescância que a suavize.
Sinto-me impelido, aqui, a rasgar o peito. A deixar que ele sangre com veemência como a cachoeira alta em queda livre. O vermelho que jorra é por cada amor não correspondido; por todos os xingamentos guardados; pelas incompreensões desprendidas. Essa camada espessa e rubi que escorre lentamente de mim e sobre mim é a maneira que meu corpo encontrou para protestar por todos os desafetos. Porque, vez por outra, não soube lidar com os defeitos alheios. E o coração transborda, de modo lento e doloroso. Neurótico! (Como o dono daquele que o abriga).
Os espectros que neste instante me infernizam, comprovam o tempo perdido com aspectos banais: roupas não compradas; passeios não realizados; bens nunca adquiridos. Tempo gasto, mal usufruído, que vejo chegar ao fim, evidenciando a voracidade daquilo que é efêmero. Mero!
O instante, em vista disso, transporta a dor, insatisfação e desgosto aos olhos que, tristonhos, resolvem “se lavar”. Muita água. Salgada, brilhante e, portanto, límpida. Elas são sinal de que me limpo das intransigências; das horas de agonia; das situações descontentes. As gotinhas torrenciais higienizam minh'alma. Aquietam aquele que sou e que, de algum modo, fez pessoas sofrerem – intencionalmente ou não.
Mais calmo, portanto (embora não menos reflexivo), esvazio-me de tudo o que é superficial. De cada minúcia supérflua – concreta ou abstrata -, que um dia enrigeceram as grades de minha fria e sombria prisão.
Vou-me embora, porém deixo o meu legado. Não o de tristeza ou de vazio, mas o de completa liberdade.
Com as asas completamente abertas,
Duílio Castro.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO melhor apresentado na atividade, sem dúvida! Fico aliviado de ter conseguido por aqui, ia ser uma pena ficar perdido no "limbo" com tantas outras criações nunca devolvidas =(
ResponderExcluir(repostando pra corrigir um erro que deixei passar)
Essas reflexões escritas e lidas sempre me tornam mais humana...
ResponderExcluirObrigado, Thi!
ResponderExcluirSua "classificação" me congratula, embora eu não concorde...
Você é muito gentil.
Abraços.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSão em pessoas como você que pretendo me apoiar... Quem sabe, assim, a humanidade entenda sua importância/sentido.
ResponderExcluirAmo-te, Cris!