sexta-feira, outubro 16, 2009

FETALMENTE

"É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela." (Friedrich Nietzsche)

Sim! Ela é minha alma, mas está parecendo um bebê. Encolheu-se tanto que atingiu a posição fetal. Mesmo assim, não há líquido amniótico que a proteja. Canção de ninar que a acalme.
Vitimada pelas eventuais injustiças, essa força vital que nos enobrece perde o fôlego. Sente-se encurralada em um cativeiro hostil. Desconfortável, ela esmaece e como lanterna com a pilha fraca, seu vigor oscila. Trepida.
Esse princípio sensitivo e intelectual reverbera minhas percepções e decepções, diante de tanta periculosidade. Ele se sente ameaçado, como que num viveiro de vespas. Há ferrões e venenos para todos os lados. O espaço é apertado e quase não há o que ser feito. Ainda assim, é preferível mexer-se lentamente a permanecer imóvel.
Como sofre essa substância imaterial e incorpórea! Como atinge com robustez meu delgado corpo! E ele sente. Geme. Suspira e chora. Porque é tudo o que consegue fazer. É só o que pode sentir.
O meu peito sente as contrações. Parece que a bolsa vai estourar. A dilatação necessária foi conseguida. E como dói! Mas não há nada a ser gerado. Isso só lembra que, mais doloroso que nascer, é viver. E eu vivo, mesmo que de modo tão pungente. Vivo para não ser um imprudente. Vivo porque viver é, fatalmente, coisa de gente.

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