terça-feira, julho 06, 2010

O Mistério da Aurora (Parte III)


Lembro-me de ter sonhado... Fora um sonho lindo! Um garota, de cabelos pretos esvoaçantes e olhos cobreados, sorria para mim, enquanto me abraçava. Ela tinha um cheiro delicioso, algo que me fazia ter fome. Era tão bom! Só seu beijo não condizia com sua delicadeza e graciosidade. Era meio "melecado" demais. E seu hálito era quente como uma fornalha. Senti o estômago embrulhar, com vigor, e acordei, desorientado. Sentei-me em minha confortável cama - mais que o normal, vale lembrar. Olhei para baixo e Luque me olhava, com o rabo mais frenético que uma baqueta na mão de um habilidoso baterista. Tentei afastar o pensamento óbvio e foi como se meu cachorrinho branco com manchas pretas risse de mim - e para mim.

__Ah, não! Luque, por quê fez isso? Já cansei de lhe explicar que você não faz meu tipo! - Como se entendesse, ele deitou-se e escondeu a focinho entre as patas. Não pude conter uma risada. E suspirei! Quantos sonhos eu tivera... Deveria estar quase na hora banho e chegar atrasado ao trabalho era um luxo ao qual não poderia me dar.

Meu quarto estava escuro. Não deveriam ser mais de 5hs30 da manhã. Estiquei-me, relaxado. Como estava bom ali, sob os cobertores. Ops! Notei, de repente, algo incomum. Estava nu! Como era possível? Poderia jurar que dormira de cueca - box e branca. Pus-me de pé, rapidamente, e acendi a luz. Cocei a cabeça, aturdido... Meus little dogs também não tinham o costume de dormir comigo. "Meus" era demais! Porque Sol não estava ali.

__Luque, cadê sua irmanzinha? - Perguntei, desconfiado. Ele me conteplava com os olhos despreocupados, ainda com seu maxilar encostado no chão. Peguei meu hobby e o vesti com pressa. Sai do quarto. Minha mãe e meu irmão ainda dormiam. Fui à lavanderia. Vasculhei tudo. E nada! Sol sumira. Misteriosamente. Voltei ao meu quarto. Algo não estava certo...

Absorto em milhões de possibilidades, olhei para o lado e deparei-me com meu criado-mudo. O livro que pusera ali na noite passada fora substituído por um celular. Lembrava um iPhone, mas de alguma astro excêntrico de Hollywood. Era de um dourado ardente. Como se percebesse minha observação, o aparelho vibrou. Estranhei. Permaneci imóvel por alguns segundos e, em seguida, o peguei. Sua touch screen acusava a chegada de uma nova mensagem. Abri-a, cauteloso! O texto dizia: 

"Bom dia, meu caro Artur. Espero que tenha dormido como um anjo! Como disse ontem, sua vida agora será diferente. É bom que esteja preparado. Sua primeira missão é reencontrar o mendigo que viu no dia anterior. Adianto-lhe que não será tarefa fácil... Com ele estarão novas instruções a respeito de sua nova jornada. Lembre-se: 'nem tudo o que parece é'. Seja cauteloso e aja com prudência. Um abraço. Julius. P.S.: Não se preocupe com Sol! Ela gostou tanto de mim que tive de trazê-la comigo. Asseguro-lhe que ela nunca esteve tão bem..."

__Que bacana! - Eu disse depois de um tempo. - O cara, então, existe mesmo. E eu não sonhara coisíssima nenhuma... Ah, pai! Oque mais falta acontecer? - Questionei, olhando para o alto. Ainda segurava o celular e, por isso, analisei-o. Procurei pela logomarca da Apple, mas a única coisa que vi - e que lembrava o que procurava - era a mesma imagem em meu pulso esquerdo. "Maravilha!", conclui!

Joguei o aparelho sobre a cama e fui para o banheiro. Tomei um ligeiro banho e, mecanicamente, escolhi o que vestiria. Primeiro, claro, a cueca. Abri a gaveta em que as guardava e pimba! Ela reluziu... Minha primeira reação foi balançar a cabeça. Todas minhas estimadas cuequinhas tinham, agora, os elásticos em ouro. Seria impossível vestir aquilo. Incomodoria. Apertaria a cintura. Peguei uma aleatoriamente e, só para provar a mim mesmo que tinha razão, a vesti. Para minha surpresa, a parte dourada se modelava ao meu corpo. Andei. Abaixei. Pulei. Tudo para ter certeza de que não me machucaria e, de fato, isso aconteceu. Era como usar fraldas - desenhadas por estilistas renomados, mas, ainda assim, fraldas.

O resto foi tranquilo! Pus meu jeans surrado da Lee, um Converse branco e uma camiseta amarela; lisa. Peguei minha mochila Jansport da cor do tênis, a carteira e as chaves do carro. Comeria algo na rua.  Saindo do quarto, contudo, algo apitou estridente... Levei ambas as mãos aos ouvidos, para protegê-los. Era o "bendito" celular, berrando para não ficar sozinho. Encostei-me na cama e, com o ato, ele silenciou. Peguei-o e o enfiei no bolso. Sai do quarto, e tranquei a porta ao fazê-lo. Passsei apressado pelo corredor que dava à sala e saí pela área que me levava ao jardim, ao lado do qual ficava a garagem. Acionei o botão para desligar o alarme do carro, abri a porta e me sentei, jogando como de costume a mochila no banco de trás. Foi uma ação rápida, mas percebi que a bolsa não caiu. Virei o pescoço e... advinhem? O morador de rua do dia anterior segurava o eu acabara de jogar e me sorria, mostrando sua arcada incompleta!

CONTINUA...

8 comentários:

  1. Tô gostando da história...que tal um conto...ou um livro? rsrs..
    Abraço meu querido!!

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  2. Obrigado, meu caro!

    Quem sabe quem sabe? (Entendeu?)...

    Abrações.

    PAZ!

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  3. Li os três, espero os 16484615 capítulos que faltam! Se não for muito incômodo, inclua Shakira (minha cachorra) em um conto. rs #briks.

    Tõ gostando de verdade desse bagúi de 'Mistério da Aurora'.

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  4. Saber que os "mais íntimos" gostam de minhas "historinhas" me felicita... Muito. E de verdade.

    Obrigado, Lio.

    E outra coisa: se quiser, a gente acerta os detalhes contratuais para "Shakira, A Cachorra que Queria Ser Loba".

    Um de meus empresários entrará em contato.

    PAZ!

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  5. Dudu...
    Vc não existe!
    Os seus textos fascinam-me!!!
    Se o William Shakespeare,Agatha Christie,ou Barbara Cartland tivesse acesso à eles, morreriam de inveja! rs
    TE AMO!

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  6. Você é uma doçura, minha amiga!

    Obrigado.

    PAZ!

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