quinta-feira, abril 29, 2010

Em Cartaz

Talvez uma ultrapassada metáfora ainda chame a atenção de alguns leitores.


CENA I



Toca-se uma música triste e arrastada. No palco de madeira, surrado pelo tempo, ouvem-se os passos daquele que, apesar de ator principal, não comporta em si qualquer atrativo. Com pesar, ele se encaminha rumo ao facho de luz refletido pelo grande holofote no centro do tablado. A platéia encontra-se em silêncio; apreensiva; ansiosa. Mas não faz idéia do que esperar. Nem imagina o que virá a seguir. A melodia cessa. O personagem, que nem precisou de maquiagem para se caracterizar, para inexpressivo frente ao público, que espera, agora, impaciente. Um burburinho de insatisfação sufoca o ambiente. As cadeiras rangem mediante o desconforto dos expectadores. O jovem sem graça entreabre os lábios, entretanto não termina o movimento. A sensação perceptível fora a de que aquela figura nefasta esquecera o texto. Porém não havia nada a ser dito. Nenhuma palavra a ser pronunciada. Aquela imagem dramática, então, abaixa a cabeça de maneira lenta. As pessoas presentes se entreolham, confusas. O teatro volta a ficar taciturno. Nem a respiração se podia ouvir... Até que, de maneira cortante e aguda, uma espessa lágrima toca o chão.

FIM DO I ATO

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