domingo, janeiro 23, 2011

A Cobra (velha e preta) e os Cordeiros




"Você não conhece aquela 'cobra preta', menino!" O substantivo "cobra", bem como o adjetivo que o segue, "preta", se referem ao ser que, agora, destaca essas palavras. A definição foi dada por alguém dócil que teve a coragem de se expressar e que, de algum modo, fez-me pensar que esta é uma concepção coletiva. O problema é que, nesse caso, se esqueceram de considerar que o réptil tem sentimentos... Não o predatório, mas o de pertencimento. E este último verbete, talvez, seja a origem do conflito. O bichinho venenoso quis compor um rebanho de ovelhinhas puras e castas, mais novas e menos maliciosas que ele. Assim, o mesmo foi vítima de preconceito. Afinal, o viam como um animal peçonhento, porém domesticável. Suas presas não matariam os quadrúpedes, posto que eram mais espertos. Na verdade, toda a sua geração o era. Mais evoluída, desenvolvida e promíscua que a da serpente. Bastaria pisoteá-la para, de pronto, extinguir sua espécie... Desse modo, antes que o fizessem, o ofídio tratou de silenciar o chocalho e não mais silvar. Trataria de manter sua língua bífida dentro da boca. Rastejaria, em silêncio, à procura de sua raça - outras najas de cor escura e parecidas com ela. Onde a diferença de idade e pensamento não seria uma complicação... Passaria a deslizar em um ambiente no qual escutaria seus demais companheiros, como o sabia fazer bem, mas também teria o direito de falar. Pôr para fora todo o seu veneno (não mortal, no entanto vital à sua existência). Afinal, mais vale ser um vertebrado que anda de rastos - e mostrar-se como tal -, do que alguns lobos (essencialmente maus) em pele e pêlo de cordeiros.

Créditos: Imagem retirada do site www.deviantart.com

2 comentários: